quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A Máscara Anónima.


Este será o ultimo registo deste ano, neste blog e gostaria de salientar algo que realmente ultrapassou fronteiras e se salientou em 2011, refiro-me ao Manifestante. Esta onda de contestação a nível global mereceu da revista Time a mesma atenção, como a figura do ano.

As sucessivas manifestações que se fizeram sentir um pouco por todo o lado, são o resultado da inquietação crescente que se regista perante a forma como somos governados ou antes mal governados. Claro que seria simplista relegar todo este fenómeno como tendo uma uma única explicação, cada caso é um caso. As Revoluções nos países Árabes têm um contexto diferente do que se verifica nas contestações a nível europeu ou norte americano, mas existem alguns traços comuns. As redes sociais serviram de pólo dinamizador para organizar movimentos que saíram à rua de uma forma exponencial. Aparentemente os partidos políticos ficaram à margem destes movimentos e seriam eles próprios alvos da contestação dado que são parte integrante dos problemas que surgiram. O povo anónimo erguia os braços e gritava bem alto a sua indignação, a sua presença e insistência revelou cada vez mais a vontade de afirmar que esta luta não seria algo de esporádico e estavam ali, para de uma vez por todas serem ouvidas. Esta força arrastou à sua frente ditaduras com recordes de permanência no poder, algo impensável à cerca de um ano atrás! -Tunísia, Egipto, Líbia, Iémen, Bahrein (em curso), Síria (tumultos continuam diariamente), entre outros. Na Europa alguns Governos não aguentaram a pressão das agências de rating a par da contestação da opinião pública em geral, casos da Espanha, Grécia, Portugal, Itália, Islândia, Irlanda. Nos Estados Unidos o Movimento "Occupy Wall Street" têm-se espalhado por todos os cantos e essa força engloba muita gente anónima que se intitula ser 99% da população. Recentemente os protestos chegaram às portas do Kremlin e as eleições com resultados fresquinhos não convencem ninguém, cheira a fraude que tresanda. Medvedev e Putin estão entretidos numa bela dança de cadeiras do poder e não se importam muito com as criticas daqueles que afirmam perentóriamente, isto nada têm a ver com uma verdadeira democracia!!!

Na Europa, ainda não fomos devidamente reconhecidos como um dos primeiros países a revelar descontentamento num acontecimento que teve tanto de episódico como de grandioso e espectacular. Falo claro do inesquecível 12 de Março, que juntou em todo o País mais de 300 mil pessoas e de certeza que influenciou tomadas de posição como os Indignados em Espanha e outros tantos por essa Europa fora.

Com toda esta crise, penso que estes movimentos em 2012 terão um papel fundamental na construção de outras soluções, irão surgir detractores e velhos do Restelo, respigando conceitos à volta do que se julga ser uma verdadeira democracia, mas eu entendo que o caminho foi encetado e não existe volta a dar. Tal como o poeta afirmou um dia ...

«juntas transcendem-se,

há algo de íntimo,

coeso e secreto

nelas.»

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Besta "Blaugrana"

Gosto muito de futebol e quando é jogado como o Barcelona o faz, fico deveras encantado. À três anos, quando estive nesta lindíssima capital da Catalunha, tive o prazer e a oportunidade de assistir a uma meia final da Liga dos Campeões Europeus num pequeno café junto à Carrer de Mallorca. O adversário era nem mais nem menos do que o Chelsea, e só nos minutos finais os catalães conseguiram desembrulhar este problema que estava difícil. O que se seguiu, eu nunca mais esquecerei. Uma multidão surgiu de todas as Gran Vias e foram desembocar na Praça da Catalunha, eram milhares e milhares de pessoas que em perfeita loucura festejavam aquela passagem à final da prova maior da Europa. Fiquei um fã incondicional desta cidade de Gaudi e desta febre pela sua equipa de futebol.

Passados estes anos, esta "máquina" de produzir um futebol quase perfeito, continua a coleccionar títulos atrás de títulos. Ainda esta semana arrecadou no longínquo Japão, mais um troféu de grande prestigio, melhor clube do Mundo, ultrapassando facilmente os brasileiros do Santos com um rotundo 4-0. O treinador da equipa adversária ainda estranhou a forma como o Barcelona se apresentou em campo, com 3 defesas e 7 jogadores de meio-campo, sem avançados de raiz????- Aquilo funciona como um harmónio, defende tudo quando tem que se defender e depois avançam no terreno com uma posse de bola inacreditável, com passes curtos e certeiros, de repente sai um passe para a desmarcação fulminante e lá aparece um ou dois jogadores com hipóteses de facturar. Um modelo simples, um rendilhado que dá prazer presenciar e os jogadores que já jogam juntos à cinco anos, fazem-no com um à vontade que dá cabo dos nervos aos seus opositores. Mourinho afirmou à pouco tempo que o Real Madrid seria campeão em qualquer outro País da Europa com uma margem muito confortável, mas aqui em Espanha reconhece que é difícil. Não poderia estar a prestar maior homenagem aos pupilos de Guardiola. A sua arrogância característica não o impede de reconhecer méritos à forma como os catalães são muito duros de roer.

Pela minha parte, apenas digo que não me lembro de alguma vez ter assistido a um domínio tão avassalador de um time na Europa com tanta regularidade exibicional e demonstrando uma saúde mental e física, que se arrasta por épocas inteiras. Sempre sob a batuta de um jogador extraordinário que dá pelo nome de Messi, quase todo o resto da equipa é fruto da "cantera" do FC Barcelona. Uma ideia a fixar pelos medíocres dirigentes portugueses.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Bom Tempo no Canal.

-Porto Pim na Horta-
-Vulcão dos Capelinhos-
- Ilha do Pico-
-Vista sobre a Horta-

-Farol junto aos Capelinhos-
-Caldeira-


..."Dentro da nossa cidade
Há um recanto risonho
Que na minha mocidade
Passava tardes de sonho..."

José Cunha Lacerda
"Radiografias dos Tempos e das Pessoas"

A cidade que se fala neste poema é a Horta no Faial. Os recantos risonhos eu passei por alguns deles no principio de Dezembro e testemunhei o aconchego destes lugares. A mocidade referida é a de um ser humano extraordinário que eu tive o prazer de conhecer, que conta nos seus 93 anos uma devoção pela sua terra natal como é raro de se assistir. As tardes de sonho é muito fácil de compreender, basta visitar esta ilha e assistir ao vivo àquilo que a Natureza moldou ao longo de milhares de anos. Este pequeno excerto do poema "Praça da Republica", integrado no livro acima indicado, foi publicado em 2005, mas no presente está na forja uma nova obra que mais uma vez indicia uma homenagem a esta ilha e ás pessoas que coabitaram com ele ao longo de quase um século cheio de peripécias. A lucidez deste senhor, a par da monumentalidade da Caldeira ou o silêncio que se sente nos Capelinhos, são marcos que não vou esquecer desta minha viagem.


Quando viajava com um familiar junto à praia do Norte , numa zona com menos densidade populacional,e passando por umas habitações junto à estrada, lembro-me de ter reflectido sobre a possibilidade de morar aqui, longe de tudo. O que seria?- Longe das crises, longe dos corredores do poder, longe dos telejornais, longe do rebuliço dos pequenos problemas que nós tornamos ridiculamente grandes, longe das hipocrisias que fingimos não dar conta mas que afinal temos de cometer para sobreviver neste mundo e apenas reaprendermos a escutar a voz da Natureza, realizando a sua obra, à nossa volta. Prestarmos atenção com olhos de ver. A Ilha do Faial desperta-nos os sentidos e faz-nos sentir bem.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A lei do cacetete.

Inspecção-Geral não abriu qualquer processo sobre actuação da PSP na greve geral

A Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) não abriu qualquer processo de averiguação à atuação da PSP na manifestação do dia da greve geral, indicou hoje aquele organismo, numa resposta enviada à agência Lusa.

Na manifestação do dia de greve geral, alguns manifestantes tentaram, durante o protesto que decorreu frente à Assembleia da República, subir as escadarias do edifício, o que motivou a intervenção policial, da qual resultou a detenção de sete pessoas e ferimentos num polícia e num fotojornalista.

Também foi posto a circular um vídeo na Internet que mostra um agente da PSP à civil alegadamente a bater num cidadão estrangeiro, um alemão de 21 anos que está acusado de ofensa à integridade física qualificada e resistência e coação sob funcionário, julgamento que vai decorrer em processo comum.

Na altura, a direcção nacional da PSP abriu um processo interno de averiguações, não existindo ainda conclusões.

Entretanto, a Procuradoria-Geral da República anunciou que vai analisar os documentos e a participação recebida do advogado Garcia Pereira, que pediu para ser aberto um processo criminal à atuação de alegados "agentes provocadores" da PSP na manifestação de 24 de novembro.

O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, já elogiou várias vezes a atuação policial naquele dia.

A IGAI informou agora que “não foi determinada abertura de processo sobre a matéria”.

Retirei na integra esta noticia do Jornal i. Apenas gostaria de saber, qual a opinião dos que continuam acomodados a esta situação?- Lembro-me da manifestação silenciosa de alguns membros das Forças da Policia de Intervenção, ainda à pouco tempo junto ao Palácio de Belém. O que aconteceu após esse acontecimento?- O governo aprovou um pacote de medidas, no sentido de satisfazer as reivindicações exigidas nessa noite! O pensamento é lógico, senão mantemos estes senhores satisfeitos, quem nos irá defender?


Não importa se criaram excepções às leis vigentes, importa sim, lembrar aos portuguesinhos que a força supera a razão. Este Governo declarou publicamente que irá fazer tudo para cumprir os objectivos e compromissos com a Troika, nem que para isso tenham de suspender a democracia durante os próximos tempos, tal como Manuela Ferreira Leite já tinha sugerido no seu tempo.

Em Espanha com o Movimento de Indignados, existiram provas evidentes de policia infiltrada no seio das manifestações, nomeadamente em Barcelona, Aqui, foi evidente a mesma forma de actuar por parte da PSP, a agressão na Calçada da Estrela foi documentada ao vivo até à exaustão, as supostas tentativas de subir a escadaria de S.Bento foram perpetradas por policias à paisana (fotos documentam esse facto!) e mesmo assim a IGAI não abre processos e o Ministro Mancebo ainda vêm elogiar a forma de actuar dos seus homens, já satisfeitos com os benefícios que reclamavam.

Nós podemos continuar a concordar ou a discordar com a forma como alguns indignados se possam ter excedido na sua forma de manifestar, mas sem dúvida que quando o Primeiro Ministro vêm a publico declarar que estão atentos a manobras estranhas de alterar a ordem pública por parte de grupos radicais, quando a própria policia noticia o controle apertado a movimentos estranhos ao normal funcionamento da democracia, é porque existe uma tentativa de pressionar a opinião pública para estar atenta a algo que venha a acontecer e que justifique a violência com que reprime todos aqueles que apenas desejam manifestar-se ordeiramente. Se calhar, até é capaz de ser melhor não sairmos de casa, dessa forma iríamos cumprir com a vontade destes senhores que se dizem representantes do povo nesta pseudo democracia.Senhor Ministro da Administração Interna, após este episódio, deixe-me que lhe diga, o senhor têm cócó na fralda!




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Por este Rio Acima.



Aproveito a ocasião do lançamento de um albúm muito esperado de Fausto Bordalo Dias para salientar este vulto enorme da música popular portuguesa. Mais um nome que tenho o prazer de salientar, pela forma como sempre soube pisar o palco da vida. A par de José Mário Branco, do Zeca Afonso, entre outros, Fausto sempre soube passar ao lado do "politicamente correcto", trocar os holofotes pela força da palavra certa. Pacientemente, vai colocando no mercado as suas "pérolas", a um ritmo quase desesperante para os que seguem a sua carreira, de década em década lá vai surgindo mais uma obra. "Em busca das Montanhas Azuis" teve apresentação discreta em meados deste mês, depois do último trabalho, "A ópera mágica do cantor maldito" que data de 2003. Peço a vossa atenção, para mais uma vez a qualidade das letras apresentadas, como ele joga com as palavras,a forma como desperta os nossos sentidos, como "pinta" os quadros da nossa diáspora, nunca se alheando das contradições, das nossas fraquezas, da luta que travámos no interior da nossa identidade como povo.
Fugiu sempre das entrevistas e do protagonismo, preferindo o anonimato como forma de se distanciar das modas, por vezes esta modéstia terá provocado uma imagem de insensibilidade aos que o admiram, mas a esses compensa-os com a sua fugaz aparição em palcos, tornando esses momentos raros em algo de inesquecível. Lembro-me da ultima vez que o vi no Coliseu ao lado de Sérgio Godinho e José Mário Branco, nem sequer dá para descrever aqueles momentos mágicos e o ambiente que rodeou o espectáculo.


Nestes momentos dificeis que atravessamos, é sempre bom recordar aqueles que sempre nos avisaram das tormentas que esta nau muito frágil iria enfrentar. Obrigado Fausto, por seres um deles.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Radio Televisão Privada.

Neste mundo das comunicações temos de aprender depressa com os sinais que nos chegam, fechar os olhos às tendências, significa extinção de qualquer género. Este novo milénio, traz-nos ventos de mudança, na forma como pretendemos receber a informação, não é novidade o crescente poder da Internet sobre toda a concorrência. No caso da televisão, terá naturalmente de se reinventar , procurar formas de captar a atenção.

Mas em vez de se estudar uma mudança de mentalidades, têm-se falado muito sobre a possível privatização da RTP, nunca estivemos tão perto que isso aconteça como agora, primeiro por causa dos resultados que a empresa apresenta, depois devido à situação económica e por último, graças a este Governo, tal como Midas, em tudo o que tocava transformava em ouro, neste caso tudo o que Passos toca, vira uma empresa privada. É o liberalismo na sua máxima expressão. O pior, neste caso é a forma como tudo isto se vai processando, digno de uma telenovela mexicana da pior qualidade.


O Relvas deitou esta cá para fora. Para final de 2012, aquando da concretização deste projecto, vamos deixar de ter publicidade no canal público. Perda de 30 milhões de receitas com esta decisão, as consequências serão mais gravosas do que a rescisão de 300 trabalhadores prevista e na mira deste senhor está um favorzinho que irá fazer aos canais privados, deliciados com esta perspectiva. Claro que estes favores são depois cobrados, de que forma?- Existem mil e uma maneiras, uma delas será o de contribuir para a manipulação da informação à apresentar por esses canais, entre outras menos visíveis. Se querem um exemplo daquilo que acabo de afirmar, reparem na mudança de atitude que a SIC Noticias teve a partir do momento que os laranjinhas chegaram ao poder. A linha editorial dos seus noticiários começaram a ser tendenciosos, revelando o óbvio e esquecendo sistematicamente de ler nas entrelinhas como era seu timbre. Naturalmente que Balsemão, vestiu novamente a camisola do PSD e puxa por os seus galões na hora de pressionar os seus colaboradores directos. Esta conivência entre o poder e a comunicação social é estudada à muito tempo mas as conclusões são sempre difíceis de aceitar ou provar.


Enquanto estamos entretidos com estes jogos, nos bastidores as negociatas continuam a bom ritmo e os grupos de trabalho ( mais uns cêntimos que se gastam para dar a ganhar a uns tantos amigos) vão apresentando conclusões de bradar aos céus, como a extinção da entidade reguladora!- Por um lado compreendo, porque as entidades reguladoras em Portugal não fazem absolutamente nada, por outro, acredito que sem regulação será mais fácil de controlar a comunicação social. As queixas irão sempre cair em saco roto.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Este não é Seguro!!

José Seguro numa das suas primeiras decisões importantes à frente do maior partido da oposição, encarregou-se de dar razão a muitas vozes do PS, desconfiam da sua enorme insegurança e falta de maturidade política . Ainda estou para perceber a frase que terá dito, quanto ao Orçamento do Estado para 2012, passo a citar ... "optámos por uma abstenção violenta mas construtiva"... (???). Vamos lá por partes, tentar decifrar este jogo de palavras. Vão-se abster, até aqui compreendo, porque estão de acordo com os compromissos assumidos, mas admitem que este Orçamento vai muito além do acordado com a Troika. Paradoxalmente, é violenta esta abstenção, uma tomada de posição sem efeito prático, mas veemente (???). O facto de ser construtiva, parece-me evidente que não existindo qualquer negociação com os partidos do Governo, emerge uma sensação de ineficácia total, muito à imagem do líder.

Eu diria que, José António Seguro na gíria popular seria apelidado de "pãozinho sem sal", do género "agarrem-me senão eu vou-lhe às trombas..." mas depois fica ali à espera que o agarrem!

Com uma oposição assim, o Passos Coelho está descansado, porque nada melhor do que ter a letargia e a falta de credibilidade como características básicas do ADN político do seu adversário principal. Como é evidente, os Socratistas já começam a ter motivos para recomeçar a sorrir. Permanecem na sombra do aparelho partidário, mas vão lançando uma ou outra "farpa" de forma a espicaçar o líder. António Costa, continua pacientemente na Câmara da capital à espera do momento exacto para assumir a liderança. Só nessa altura, num futuro próximo, quando o próprio Governo rapidamente sair do estado de graça em que se encontra, diríamos melhor, da sua zona de conforto, mais o desgaste progressivo (e acelerado!) do José Seguro, aí provavelmente terá a sua oportunidade de avançar. Até lá, estes dois ex-jotinhas como líderes, estão em sintonia, vão-se entendendo às mil maravilhas!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Paz no Egeu.

A localização da Grécia sempre foi trespassada por uma confluência de problemas regionais e continentais ao longo da sua história. Como curiosidade, os turcos que sempre foram vizinhos incómodos, (relembro a ocupação turca do seu território durante parte do séc. XIX , a par de outras questões mais recentes, como o Chipre) neste momento estão dispostos a ajudar os helénicos, com base numa economia que respira saúde, ao contrário das dificuldades emergentes dos gregos.Tomo por exemplo uma das áreas mais importantes para os cofres de Atenas, que é sem duvida o turismo. Desde 2008 que as receitas geradas, nesta industria, são proporcionalmente cada vez mais baixas em função da crescente instabilidade social que se faz sentir nas ruas, no entanto, da Turquia chegam boas notícias, porque todos os indicadores apontam para uma afluência cada vez maior de pessoas vindas desse País do outro lado do Egeu, que acabam por deixar vincada a sua prosperidade nas receitas que ali deixam. Existe uma mudança visível de atitude, apesar de que na minha opinião, este fenómeno deve-se essencialmente a uma pequena parte de uma operação de charme, muito mais vasta, para que este País passe a integrar a Comunidade Europeia a curto prazo.

Esta relação entre cristãos ortodoxos e islâmicos nunca foi famosa, basta lembrar a questão do Chipre, agora dominada por um parlamento constituído por gregos, mas aonde a comunidade turca da ilha nunca aceitou esse facto e proclamou mesmo a Republica turca do Chipre do Norte desde 1974, uma situação que não é reconhecida pela comunidade internacional. Só a vontade de adesão à Europa atenua esta tensão permanente.

Com cerca de 33 acordos assinados em 2008 entre as autoridades dos dois países foi completo a maior parte do quadro jurídico das relações em vigor. Os contactos entre eles, começam a ser construídos numa base do respeito e compreensão e antevejo que esta seja uma porta de esperança para o povo helénico. Provávelmente terão que se virar a Oriente, algo que sempre evitaram por razões óbvias no passado, mas agora em função da sua frágil situação e da economia vistosa e sedutora do outro lado do Egeu, acho que será inevitável. Enquanto isso a Turquia continua a lançar o seu perfume pela Europa.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Margaret Bourke-White

"Um soldado com uma banhista" - 1945


"Mahatma Gandhi" 1946


"O topo do Edifício Chrysler " 1931


" Fila de vítimas das inundações" 1937


"Sulcos" 1954

Continuando a apresentar neste blog, os mestres da fotografia, hoje chega a vez de Margaret Bourke-White. Nasceu em Nova Iorque em 1904, concluiu a licenciatura em arte em 1927. Tal como agora, o mundo inteiro estava de olhos postos na Bolsa, a depressão dava os seus primeiros sinais e com a sua câmara, descobriu as greves operárias, as lutas sindicais e a repressão por parte da polícia. As desigualdades presenciadas na rua, transformaram esta mulher que já lutava pelos ideais feministas, numa activista de esquerda. A Revolução Bolchevique na URSS foi um apelo a que não se negou e foi a primeira repórter acreditada naquele país. Um livro seu realizado na URSS, com o nome "Eyes on Russia", integrou anos mais tarde a "lista negra" da repressão macarthista.

Em 1939, o nazismo avançou sobre a Europa e surpreendeu-a em Moscovo que captou com uma rara sensibilidade as imagens dos bombardeamentos da cidade e conseguiu nessa altura um dos raros sorrisos de Estaline. Em 1942 torna-se fotógrafa oficial da Força Aérea dos Estados Unidos e continuou a trabalhar como correspondente de guerra. Nas capas da "Life" tornaram-se imagem de marca os campos de concentração, pelotões de fuzilamento e valas comuns. Em 1946, numa reportagem que faz durante o processo de independência da Índia, consegue a autorização de apenas tirar três fotografias a Gandhi, durante um voto de silêncio junto a uma roca. Esse mesmo artefacto, representava no ponto de vista do líder, que a população não precisava da maquinaria britânica para as suas necessidades, bastava-lhes uma tradicional roca para fazer a sua roupa e assim ser feliz. À sua terceira tentativa, na qual aquele utensílio ocupava o plano primeiro e a luz projectava-se por trás das costas de Gandhi, valeu-lhe
o epíteto da sua simpatia pelo caminho da paz e a sua intransigência perante os povos opressores. Um disparo que deu várias voltas ao mundo.

Durante a Guerra Fria foi "perseguida" pelo FBI pelas supostas "actividades antiamericanas" que desenvolvera entre 1930 e 1950, mas a revista "Life" nunca lhe retirou a sua confiança e dessa forma ainda cobriu a Guerra da Coreia. A doença de Parkinson retirou-lhe a firmeza nos disparos e acabou por se retirar. Em 1971 acabaria por falecer dessa mesma doença, no seu lar em Connecticut. O seu sentido de oportunidade e a sua coragem fizeram desta mulher uma pioneira em muitas das situações em que se envolveu, até pelo simples facto de enfrentar o machismo que dominava o mundo da fotografia.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um talhão de esperança.


Os mais antigos costumavam comentar comigo que os pequenos quintais por trás dos prédios em plena capital, representavam aquele hábito de muita gente que migrou de zonas rurais e trouxeram a sua intrínseca ligação à terra. Claro que num período de crescimento aparente do País nos anos 80 e 90, essa prática foi deixando de fazer sentido, os mais novos não se interessavam e os mais velhos iam abandonando essa prática, porque as grandes superfícies proliferavam e os produtos cada vez mais acessíveis à sua bolsa, não incentivavam o cultivo. Se falarmos em termos de abandono, relembro as políticas desastrosas do Sr Silva nesta área. Os subsídios comunitários choviam e foi incentivado o virar as costas aos campos. Virar as costas às pescas, etc...Por isso acho engraçado quando vejo o mesmo Sr.Silva passados uns anos vir incentivar os jovens a voltarem à agricultura!! -Eu acho que se deveria exigir um mínimo de decência a estes políticos que acham ter o poder de fazer esquecer todas as estrumeiras que praticaram no passado (ainda por cima recente!), porque depois destas afirmações até as vacas açorianas se riem!!!

-Chegados a este momento da nossa longa história, seria desnecessário explicar o porquê de ressurgir este interesse pela terra. Não me abstenho de pensar que numa primeira fase à uns anos atrás, estávamos muito numa onda de Al Gore, o verde predominava, sentíamos necessidade de preservar, as campanhas de sensibilização não cessavam e o planeta como um todo era preocupação evidente. Mas agora não, penso que é um outro instinto que nos guia, somos levados a pensar que falhando tudo à nossa volta, inclinamo-nos para a pura sobrevivência que nos leva outra vez à terra. Tenho acompanhado as iniciativas que têm surgido, a maior parte das vezes de índole municipal, mas não só como o exemplo que ainda a semana passada li no jornal "Expresso". Em Montemor-o-Novo conjugaram-se dois interesses numa "simbiose" que eu achei curiosa, por um lado os proprietários de muitos hectares abandonados e por outro, pessoas interessadas em trabalhar essas terras, mas que não tinham terrenos para o fazer. Criou-se uma base de dados e as pessoas interessadas vão-se organizando, vão-se comunicando, respeitando é claro, regras bem definidas para ambos. Na zona de Lisboa e arredores cada vez que aparece uns talhões disponíveis, aparece logo muitas candidaturas e a verdadeira crise ainda nem se começou a sentir, segundo o que dizem os entendidos. Penso que na zona do Parque Botânico de Monteiro Mor, junto ao Museu Nacional do Traje estão disponíveis cerca de 2500 m2, uma zona que era tratada pelos próprios funcionários do Museu por pura carolice, mas que por diversas razões foi sendo abandonada, pelo que sei já existem candidatos suficientes para criar ali mais uma horta comunitária super lotada.


Este fenómeno tende a espalhar-se e seria interessante saber até que ponto não precisemos todos de começar a pensar em soluções que não passem necessariamente por um modo de vida que se encontra prestes a esgotar os seus recursos e que nas ultimas décadas definha-se a olhos vistos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

ACORDEM!!!! ....Porra!


"O que realmente levanta uma indignação contra o sofrimento não é sofrimento intrinsecamente, mas a falta de sentido do sofrimento."

Frederich Nietzsche

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

Che Guevara

O sonho é legítimo... Mas o sono pesado de nossa indignação atrai o caos. Precisamos acordar para o fato de que as mudanças sociais começam dentro de nós.

Demétrio Sena

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Merotocracia



Uma das grandes questões que actualmente se colocam aos movimentos de indignados, é a capacidade destes grupos de dar respostas capazes aos problemas que levantam?
A Democracia têm tido as "costas largas", qualquer ditador disfarçado hoje em dia poderá assumir que no seu caso em particular este mesmo regime é respeitado integralmente e o povo de uma forma ou de outra teve oportunidade de eleger os seus representantes. Já de certeza ouviram falar, José Eduardo dos Santos, Hugo Chávez ou mesmo Hu Jintão e parece-me incrível como estes senhores conseguem conjugar a palavra demo+kratos com a realidade dos seus países. Mas estes são exemplos maiores da hipocrisia política do século XXI, no entanto se depois tivermos com um pouco de atenção, vamos encontrando outros atropelos menos consistentes mas relevantes na nossa própria comunidade europeia. Todos os dias, basta abrirmos os olhos e estar atentos a sinais muito preocupantes vindos daqueles que supostamente elegemos para serem nossos representantes e defenderem os nossos interesses comuns.

Seria previsível que sendo políticos, não teriam a mesma fama se fossem cumprir tudo aquilo que prometeram nos seus programas eleitorais, a sua classe vive momentos bem conturbados de credibilização perante os eleitores, mas a crise está aí e precisamos urgentemente de soluções mais convincentes. Aonde vamos encontrá-las?

Fora dos partidos políticos seria talvez uma ideia muito perigosa, dizem alguns, porque poderíamos estar aqui a presenciar a um déjà vu da situação caótica que a Europa viveu antes da Segunda Grande Guerra com o aparecimento de grupos totalmente inovadores e depois deu naquilo que deu, portanto estamos aprisionados a um sistema que não se renova mas vai-se perpetuando até um dia...

Portanto, voltando à questão do princípio, eu admito que a realidade é propiciadora de alguns movimentos mais radicais com algumas ideias inócuas e limitadas por alguma utopia na sua realização, mas quando se diz que não existem respostas, às perguntas levantadas é totalmente falso. Os manifestos estão expostos para quem queira dar-se ao trabalho de ir consultá-los, mas acredito que a muitos portuguesinhos lhes seja mais fácil de afirmar que estes movimentos são vazios de conteúdo e apenas pretendem desestabilizar!!!
Muitas das ideias apresentadas fazem todo o sentido para quem como eu não obtenho qualquer vantagem na forma como somos governados, agora acredito que para certas pessoas seja impensável estar a perder tempo com este tipo de reivindicações.

A 12 de Março referi aqui neste blog que aconteceu algo de muito diferente neste País, espero que este movimento tenha aqui uma oportunidade de provar que nada daquilo foi efémero e que os "velhos do Restelo" são difíceis de mudar de opinião mas um dia terão que assumir que este inicio de século merece uma Merotocracia em vez da velhinha Democracia.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Terceira Visão.


Dalai Lama decidiu que irá reencarnar naquilo que lhe vier à tola e eu pergunto já que é assim, quem irá decidir o destino a dar na reencarnação da nossa economia quando chegarmos à bancarrota?

Sou um fervoroso seguidor das ideias deste grande guia espiritual e só tenho pena que os nossos sucessivos governos não o tenham recebido condignamente, aquando das suas curtas e esporádicas visitas a Portugal (isto porque estamos sempre a prestar contas àquele grande mercado emergente do Oriente, enfim chinezices!), mas agora seria interessante ele apreciar que não foram infrutíferas as suas viagens. Apreendemos depressa alguma da filosofia zen que ele difunde por esse mundo fora, se nunca se aperceberam deste facto, basta relembrar uma série de medidas governamentais que foram tomadas nestes ultimos 100 dias, sem qualquer reacção da nossa parte. Passo a enunciá-las:

* Aumentaram os transportes de uma forma brutal e nós o que fizemos. Serenamente NADA!
*Anunciaram cortes na saúde, resolução de diminuir os transplantes realizados, ainda estenderam as taxas moderadoras a grupos da população que usualmente tinham a sua isenção por razões diversas e continuam a fechar centros de saúde sem nenhum critério racional. O povo saiu à rua?- Não senhor, preferiram sentar-se na posição de lótus e esperar por dias melhores.
*Mexeram nas leis laborais de forma a que o patronato pagasse menos nas situações de despedimento sem justa causa, pretendem retirar privilégios a todas as pessoas que trabalham feriados e folgas. Ausência de qualquer medida para proteger os trabalhadores a recibo verde. E apesar de tudo isto, os portuguesinhos entenderam mais uma vez fechar os olhos e deram as suas mãos para....uma conjugação de energias.
* Vão-nos retirar 50% do subsídio de Natal, mas talvez por causa dessa época festiva, decidimos enaltecer o nosso sentido de solidariedade e compreendemos.
*Quando alguém deu a ideia de taxarmos os mais ricos, este Governo ainda sorriu de soslaio e afirmou, ..."nem pensar nisso e depois as fortunas fogem todas para o outro lado do Atlântico???". De devaneio em devaneio fomos sempre cultivando esta nossa veia budista e mantivemo-nos em concentração total.
* Aumento do IVA de 6 para 23% na electricidade e no gás natural. Continuamos mesmo assim a pensar que numa próxima reencarnação teremos poucas probabilidades de voltar a este lugar e sermos governados por estes pseudo políticos.

Respiramos profundamente, libertamos estas energias negativas. Estamos agora calmos. Relaxados e felizes!

Poderia enunciar mais medidas, mas em cem dias já podemos afirmar que lá longe no Tibete o Grande Dalai Lama irá ter orgulho neste povo que ele um dia visitou, escondido, pela porta de trás, mas que deixou um rastro de felicidade e amor puro!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Monte Santo.


Terra

" Onde ficava o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os Rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar.
Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio."

Poesia de Fernando Namora




..."Cansado de estar de cócoras em frente do bicho. A moleza do corpo não lhe permitia tal posição.
O sol viera adormecer os nervos, trazendo quebranto e desleixo aos músculos, como se um afago morno tivesse furado a cortina das nuvens para lhe vestir a carne friorenta com uma indolência entorpecente. Por isso os gestos do Pencas se espreguiçavam; por isso os seus membros eram vermes deliciados e o cérebro se esvaziava numa cálida zona de volúpia, todo ele sem forças para se interessar pela tortura da cobra. Esta, resignada ali na sua frente, fazia-lhe apetecer os dias rubros de soalheira, as vinhas, os baldios, os lagartos torrando-se no cimo das fragas, vida quente e livre, sem aquelas necessidades miseráveis de comida, botas, tabaco e vinho"...


Depois de umas belas férias, lembrei-me de evocar Fernando Namora e o livro que escreveu em 1951 "A noite e a Madrugada", dado que ele o escreveu na bela aldeia de Monsanto, aonde eu passei um dia inesquecível. Esta aldeia é indescritível e só quem se senta naqueles penedos compreende a suprema leveza do ser, o cheiro que emana daquelas pedras e sobretudo a paz que nos invade. O silêncio perturbou-me nesta bela tarde de Setembro, será difícil imaginar o que será, passarmos uma noite de inverno rigoroso, refugiados num destes belos abrigos de pedra que nos rodeiam.

Fernando Namora escreveu também neste lugar "Retalhos da Vida de um Médico", que depois até foi adaptado ao cinema no ano em que nasci, 1962, por Jorge Brum do Canto. Garanto-vos que quem visita o local poderá perceber facilmente a razão da eleição deste lugar ermo e calmo para inspirar a escrita e desenvolver a sua carreira de médico, já que a exerceu num consultório que está bem referenciado numa rua com o seu nome.

Muitas vezes na nossa vida encontramos esquinas, aonde por momentos desejaríamos perpetuar a nossa estadia e desfrutar as vistas até à exaustão. Momentos perfeitos.