quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Que parva que eu sou!


Desde que comecei este blog, sempre critiquei a atitude passiva como os portuguesinhos enfrentaram nos últimos anos as dificuldades do nosso quotidiano. A situação têm vindo a piorar progressivamente e neste momento já não existem formas de esconder os números do nosso descontentamento. Todos nós, mesmo os que neste momento se encontram aparentemente bem, antes de mergulharem nos seus empregos, pseudo estáveis, acordam todas as manhãs, com mais um sinal de que, ou vamos perder mais poder de compra, por esta ou aquela razão, ou o Governo decide que as medidas de contenção até agora tomadas não são suficientes, ou extinguiram-se mais uns postos de trabalho, ou a despesa do Estado, apesar de tudo é a única que continua a subir, ou o Sarkozi e a Merkel decidiram apertar mais o cerco, ou o caso de corrupção à muito nas barras do tribunal acaba por não dar em nada, ou são os partidos que se atacam ferozmente no intuito de alcançar o poder, a qualquer preço, etc... tudo sinais constantes de que não existe forma de nos sentirmos confortáveis e egoístas por muito mais tempo. Solidariedade é algo que neste momento não se pode pedir aos portuguesinhos, na minha opinião de uma forma ou outra TODOS NÓS estamos a ficar enrascados e se não temos sensibilidade para ajudar o próximo, ao menos agora, pensemos na nossa própria pele.
Esta forma pessimista de realçar as nossas fraquezas não é um Estado de alma inconsequente e prematuro, a imagem retórica do copo meio cheio ou meio vazio é simples demagogia para aqueles que continuam impávidos e serenos. O povo é, aliás, sempre sereno, dizem eles!
Esta geração à rasca, se calhar vai dar-nos uma lição!! -Pelo menos aos da minha geração, que se iludiram com os cravos de Abril e consequente entrada para a Europa. Vai dar uma lição à apelidada geração rasca, (nome dado por uma figura politica proeminente que todos devem conhecer) muitos deles que hoje se sentam naquelas mesmas cadeiras da Assembleia da Republica.
Ou posso estar muito enganado e isto vai tudo continuar na mesma, isto não passa de um movimento de processos de intenção na internet, não passam de meninos que gostam de escrever coisas... ou então, tal como eu sinto, que desta vez algo paira no ar. Existe um sentimento transversal a toda a sociedade portuguesa, que não abarca só os mais novos. Importa sim, é não partidarizar este movimento, ao qual me junto, com muita vontade de voltar a sentir orgulho em ser PORTUGUÊS.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A ilusão


Quando eu era pequeno, vivia no centro de uma grande cidade, os meus pais tinham um restaurante pequeno e muito frequentado, lembro-me de que existia uma pobreza envergonhada que por vezes nos batia à porta, à procura não de uma esmola mas de comida, afinal aquele era um local aonde se poderia afagar um pouco o estômago. Muitas destas pessoas acabavam por se fidelizar neste local já que os meus pais nunca diziam que não. Alguns deles faziam pequenos recados para compensar a sopita. Outros, a bússola mudou o seu Norte e foram bater a outras portas. Estamos a falar dos anos 70, o definhar da ditadura e os anos logo após a Revolução, tempos confusos aonde acabámos por receber toda aquela gente vinda das ex-colónias com uma mão à frente outra atrás, milhares que se abrigaram aonde calhou. Os Governos de cariz provisório caíam como tordos, uns após os outros, o que hoje era segurança amanhã era insegurança, as leis que se ditavam hoje, amanhã eram anuladas, etc... um panorama que não era brilhante.
No final dessa década, principios dos anos 80' eu ouvia falar que tudo iria melhorar, com tempo, seriamos um povo plenamente integrado na Europa, com direitos e deveres que nos trariam esperança para gerações futuras, a consolidação da democracia iria transformar muitas das nossas fragilidades. O amanhã era tido como certo, após o despotismo e a clausura de 40 anos, deixaríamos de alienar o povo com o fado do destino certo. E a FOME?????- Isso seria básico e elementar, irradicar esse flagelo da nossa sociedade, seria fundamental.
Toda esta introdução, para que eu possa entender o quotidiano e exprimir toda a frustração desta minha geração perante o desalento dos mais novos e também daqueles que trabalhando uma vida inteira, de repente, caiu o céu nas suas cabeças e lutam desesperadamente para que o vizinho não note a sua amargura ao ver-se obrigado a bater a muitas portas, porque os filhos esperam alguma coisa em casa.
Será que estou a distorcer a realidade(?), afinal de contas estamos em pleno século XXI e temos outras "armas" para combater este mal. - Mas então, o porquê de eu sentir que afinal andámos iludidos com tanto provincianismo bacoco? -Muita gente continua a olhar para o lado enquanto todo este panorama não nos bate à porta. Será que afinal, somos mesmo PARVOS como eles dizem?- Que me interessa ter muitas auto-estradas, muitos estádios de futebol, muita tecnologias se no fim o que realmente interessa, continuamos a anos luz de lá chegar!!!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pare, Escute Olhe


O visionamento deste documentário que já estreou à cerca de 1 ano, levou-me a pensar que em Portugal a qualidade do serviço público prestado, depende de muitos factores, mas aquele que deveria ser sempre prioridade, fica infelizmente para último, o bem estar das populações.
Vou aqui deixar um exemplo, mas poderia falar, em termos de caminhos de ferro, no fecho de mais de 800 km nos últimos anos. A famosa Linha do Tua, fechada por decreto de resolução do Conselho de Ministros, desde finais de 1991, continua nos dias que correm a ser uma pedra no sapato de quase todos os principais políticos portugueses, isto porque as promessas foram muitas e obra nenhuma. Aqueles quilómetros de via férrea entre Mirandela e Macedo de Cavaleiros jazem talvez para sempre perante cenários que não custa a acreditar, dizem os entendidos, serem do melhor do mundo em termos de beleza.
Projectos, já foram apresentados, secundarizando até as pessoas que continuam a necessitar deste transporte como pão para a boca, mas relevando a sua importância no aspecto turístico. Poderiam dinamizar todo este interior cada vez mais abandonado, com o valor intrínseco do trajecto. Ainda à cerca de um mês o Presidente da Republica visitou algumas destas paragens e confrontado com a possibilidade de reabertura deste troço, respondeu simplesmente que já passou muitos bons momentos nestes locais e desviou-se mais uma vez da questão. Infelizmente a sua memória é cada vez mais curta e deveria lembrar-se que foi através de um Governo liderado por si que despoletou o encerramento da Linha. Hipocrisia, pura e dura!
Os transmontanos desejam cada vez mais que a linha de fronteira fosse um pouco mais a Sul, de maneira que não tivessem de se preocupar mais com a realização de manifestações, sinos a rebate ou choros de revolta perante a indiferença. O poder centralista de Lisboa têm cada vez mais, vistas curtas. Colocaram transportes alternativos ao comboio, mas as pessoas continuam a esperar horas para que se possam deslocar ao médico, à escola, para os cada vez menos empregos que existem. E Lisboa fica lá, longe... Muito longe e estes políticos demoram a prometer, porque já ouviram dizer que agora estamos mal. Da Europa já não vêm aqueles milhões que costumavam vir e agora até nos estão a apertar os calos!!!
Por incrível que pareça, os senhores do PSD no poder em meados de 90 diziam, na altura, que a consulta às autarquias introduzia demasiado populismo na decisão. Por isso fecharam a Linha sem perguntar nada. A democracia segundo eles, têm limites.
Ao percorrer aquelas imagens da autoria de Jorge Pelicano, interrogo-me senão deveria ser da responsabilidade do Engenheirinho, criar condições para promover a prazo, a fixação das populações nos quatro cantos do País?
O progresso da nossa Nação é isto mesmo, muitas concessões à Mota Engil para cruzar Portugal de lés a lés com IPs em sucessão aritmética, muito betão para encher os bolsos aos mesmos de sempre. De certeza a esta hora, o conselheiro Abílio Beça, um dos grandes dinamizadores e fundadores desta linha em 1903, que por ironia do destino acabou por morrer numa das estações, trucidado por uma locomotiva em 1910, estará a dar umas belas voltas na sua tumba.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Venham mais cinco!


Desculpem lá qualquer coisinha em insistir neste tema, mas faz-me impressão e muita inveja ver um povo lutar na rua contra tudo e todos, pelos seus direitos e por uma causa. Este espírito de luta deverá estar no código genético da identidade deste povo. Fiquei arrepiado ao ver apoiantes de Mubarack (policias e a secreta disfarçados) entrarem na Praça da Liberdade (Tahrir) montados em cavalos e camelos e levarem tudo à frente sem qualquer piedade, depois tudo o que se viu nas ultimas horas...Parecia uma cena tirada de um "take" qualquer de um filme que rodavam naquela praça. Simplesmente irreal!

A grande dificuldade do ditador até agora, foi não ter encontrado nenhum líder ou cabecilhas desta revolução e como toda a gente sabe, é dificil lutar contra todo o povo que grita em uníssono pela sua libertação.

Vou transcrever uma das canções, de um homem que também nunca virou a cara à luta e que se encaixa muito bem neste espírito, que serve como minha homenagem a todos aqueles que já tombaram naquelas ruas pejadas de sangue.

"...Venham mais cinco, duma assentada que eu pago já

Do branco ou tinto, se o velho estica eu fico por cá

Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar

De espada à cinta, já crê que é rei d’aquém e além-mar
Não me obriguem a vir para a ruaGritar

Que é já tempo d' embalar a trouxaE zarpar
Tiriririri buririririri, Tiriririri paraburibaie, 2X Tiiiiiiiiiiiiii paraburibaie ...Tiriririri buririririri, Tiriririri paraburibaie, 2X
A gente ajuda, havemos de ser mais

Eu bem sei

Mas há quem queira, deitar abaixo O que eu levantei
A bucha é dura, mais dura é a razão

Que a sustem só nesta rusga

Não há lugar prós filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua GRITAR

Que é já tempo d' embalar a trouxa E zarpar
Bem me diziam, bem me avisavam

Como era a lei Na minha terra, quem trepa No coqueiro é o rei
A bucha é dura, mais dura é a razão

Que a sustem só nesta rusga

Não há lugar prós filhos da mãe
Não me obriguem a vir para a rua Gritar

Que é já tempo d' embalar a trouxaE zarpar..."

ZECA SEMPRE!!!!!!!