quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Senhor do Fato de Treino.

A TAP, uma companhia que ultimamente têm estado nas bocas do mundo, pelos motivos conhecidos, vive um momento de rara indefinição, quanto ao seu futuro. Eu, desde muito pequeno, ouvi falar desta companhia  com uma deferência especial, até porque tinha um tio muito chegado que trabalhava numa empresa satélite e que se servia dos melhores epítetos para idolatrar a empresa mãe. Aprendi a respeitar o seu nome, como algo de muito sólido. Entretanto, a transportadora aérea passou  por muitas fases, até chegar a este estado. Talvez este caso, mesmo a nível europeu, não seja sui generis, mas as soluções até agora apresentadas, parecem-me originais, na forma como o Governo está a "despachar" a empresa por qualquer preço e ao primeiro que se chegue à frente.

Existem muitas teorias, sobre a valorização real da companhia neste momento, mas suspeito que 20 milhões, não seja um número aceitável!! 

A meu ver, esta nem será uma "jóia da coroa", como muitos a apelidam. A EDP e a PT, essas sim foram anéis que foram delapidados por privatizações fraudulentas. 

Mesmo tendo em conta, as dívidas contraídas ao longo dos anos, mesmo sabendo que a frota deveria ser renovada, os activos da empresa, poderiam facilmente cobrir o passivo e calcular então um preço de venda mais condizente com o prestigio da empresa. 
A verdade, é que só um candidato se apresentou a este negócio (ainda por cima, com este preço), que me pareceu mais, uma negociata.  Isto, por duas simples razões. Primeiro porque o Relvas está envolvido (aliás, ele está em todas) e porque o senhor do "fato de treino", Efromovich, cidadão do mundo e de lugar algum, pareceu-me um oportunista de meia tigela, a prometer mundos e fundos, vindo inclusive para a comunicação social dar entrevistas, falando como se já tudo tivesse sido decidido e ele detivesse o controlo absoluto da empresa. Toda a gente sabe que a descrição nestes processos , são cruciais para o êxito dos mesmos e este senhor ficou desde então, muito mal na fotografia. Claro, logo a seguir, Passos Coelho só tinha que escolher um caminho. Recuou, deu uma desculpa esfarrapada, sobre a não entrega de um valor de garantia, que ninguém de juízo perfeito acredita. Do mal o menos, os portuguesinhos já estarão habituados a estes avanços e recuos do Primeiro Ministro. 

Quanto aos episódios subsequentes sobre este assunto, não acredito em milagres e serão na linha das decisões desastrosas até aqui tomadas sobre as privatizações a concretizar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Devaneios ortocromáticos III

                                                    2011- Vista aérea da Ilha do Pico

                                                                      2012- Buçaco

                                                     2011- Grafitti na Horta. Ilha do Faial

                                               2011- Farol dos Capelinhos. Ilha do Faial

                                                       2012- Aparição. CCB em Lisboa

                                                      2012- Jardins e Palácio no Buçaco

2012-Moliceiros na Ria de Aveiro


“O passo entre a realidade que é fotografada na medida em que nos parece bonita e a realidade que nos parece bonita na medida em que foi fotografada é curtíssimo.”

     Excerto de  "O que é fotografia?" de Italino Calvino

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Sonho de um Monárquico.




 Vou falar de um sonho. Um sonho de um arquitecto paisagista que nunca desistiu!
 A inauguração no próximo dia 14 em Lisboa, do chamado Corredor Verde de Monsanto. Gonçalo Ribeiro Telles, com 90 anos, muitos deles, passados a chamar atenção dos autarcas deste nosso País,  para a importância dos espaços verdes, para as construções incontroladas de betão sobre cursos de água, o respeito pelos lençóis freáticos, do perigo da desertificação no interior, numa agricultura com bases sustentadas em políticas coerentes, nas idiossincrasias difusas dos responsáveis pela pasta do Ambiente nos últimos Governos, ou seja, ausência completa de continuidade e sustentabilidade nos programas idealizados.

As ideias deste monárquico, muitas vezes embateram num muro constituído por jogos de interesses e políticos comprometidos. Mas na capital deixa, sem dúvida,obra feita. Além deste sonho, outros estão ainda em plena implementação, como por exemplo, a radial de Benfica, o projecto do Vale de Alcântara e ainda a sua ideia fantástica de uma cidade virada ao Tejo, com o mínimo de edificações a separar o cidadão do seu rio, na zona ribeirinha a oriente e a ocidente. Não esquecendo nunca, o prémio Valmor que obteve com o excelente espaço verde na Calouste Gulbenkian ou mais recentemente, o Jardim Amália Rodrigues, no cimo do Parque Eduardo VII.

 Enquanto foram cometidos tantos atentados contra o ordenamento do território, especialmente perpetrados pelo Sr. Silva nos seus áureos tempos como Primeiro Ministro, este senhor, estava lá e apontou o dedo, indicando os podres do Reino. Muitas vezes foi apelidado de  estranho visionário. A eucaliptação do Pais, não foi obra do acaso, agora incentiva-se o retorno à terra, sabem por quem??          Exactamente, o mesmo Sr. Silva.
Esta inauguração, aonde Gonçalo Ribeiro Teles irá estar presente, é sem dúvida uma lufada de ar fresco neste País acabrunhado e cinzentão. E ele merece, a cidade também. Aqui fica o convite, vão dar uma curva entre a Avenida Liberdade e Monsanto e respirem fundo. São sete quilómetros para descontrair e esquecer as notícias da manhã.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dave Brubeck

Hoje não podia deixar passar a oportunidade de prestar a minha grande homenagem a um músico que aprendi a admirar. Faleceu hoje um grande mestre do Jazz e um homem cuja simplicidade sempre o guindou a um patamar de excelência. "Take Five" (vídeo em cima), foi sem dúvida a sua grande imagem de marca, mas as quase 250 melodias que produziu, deixam um legado inestimável.

Nasceu em 1920 na Califórnia, aprendeu piano aos 4 anos, alegando ter dificuldades de visão, evitava as partituras e sempre foi muito autodidacta. Participou na Segunda Grande Guerra sob o comando do mítico General Patton, teve algumas incursões numa orquestra da Cruz Vermelha, aonde tocava em vários espectáculos para as tropas. Foi o primeiro músico de Jazz branco a aparecer na capa da Revista Time, em 1954. Era contra a vigente segregação racial e a sua música transpunha barreiras que de outra forma seria difícil de alcançar, foi pioneiro em clubes exclusivos de negros, acompanhando nomes como Duke Ellington, Ella Fitzegerald, etc...

"Take Five", foi só o single de Jazz mais vendido de sempre, foi um dos poucos a tocar para 4 Presidentes norte americanos, a sua reputação estendeu-se de uma forma viral por causa da forma descomplexada e simples como desconstruía o Jazz, conotado como algo de muito enigmático e difícil de entranhar no público em geral. O Quarteto Dave Brubeck, com Paul Desmond, Eugene Wright e Joe Morello, foi a formação que mais vincadamente marcou a sua obra, iniciaram esta aventura em 1951, terminando em 1967. Mais tarde, ainda viria a tocar com os seus três filhos entre 1971 e 1976. Aliás foram os seus filhos que em 2009, numa homenagem que a Casa Branca prestou a este grande vulto da cultura norte americana, tocaram nas vésperas de ele completar 90 anos.

Ouço muito Brubeck  e hoje nas vésperas de ele completar 92 anos, fiquei com a sensação de que o Jazz perdeu um dos seus maiores expoentes. Paz à sua alma.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Frases soltas




Errar é humano. Culpar outra pessoa é política.
Hubert H. Humphrey

Quando Gaspar e seus amigos, repetem vezes sem conta, estarem no caminho certo a tentar corrigir erros de um passado recente, compreendemos Hubert.


A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.
Voltaire

Quando Gaspar e seus correligionários evocam a necessidade de uma violenta carga fiscal para o ano e justificam com a promessa de melhores dias num futuro (??) próximo. Não deveríamos desconfiar desta recuperação célere, sacrificando tudo e quase todos?
Será que já estamos no campo da perversão para explicar este orçamento?


A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.
Winston Churchill

Neste caso, poderíamos afirmar que o felino Cavaco já gastou as suas sete vidas!!!! 


Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.
John Galbraith

Só dessa forma, conseguimos compreender as entrevistas dadas por Passos Coelho, antes das eleições, sobre matérias cruciais, como o aumento de impostos.


Não há nada de errado com aqueles que não
gostam de política, simplesmente serão
governados por aqueles gostam.
Platão

Uma verdade cada vez mais presente na nossa Assembleia da República. Quando votamos, ninguém sabe quem se vai sentar naquelas cadeiras, Depois, olhamos resignados e verificamos a decadência dos valores em questão, com o passar dos tempos. Existe muito boa gente, que ali, poderiam ajudar este País a singrar, com as velas ao alto, mesmo atravessando tempestades e ventos cruzados. Simplesmente, essa gente capaz já não têm pachorra para estes jogos.


Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.
Bertold Brecht

Termino, com esta frase de Brecht, para mais uma vez salientar a importância de nunca deixarmos estes senhores destruir o sonho de Abril. A apatia e a ignorância do que se passa à nossa volta, são duas caracteristicas aliadas do poder. A resiliência, que tantas vezes é repetida pelo primeiro ministro, como sendo prioridade na nossa forma de estar, é altura de contrapormos com uma vontade de lhe mostrar, que a corda de uma vez por todas partiu. Nós sabemos quem são os malfeitores da vida pública!



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Profissionais da amargura.

Este filme de Jason Reitman, com George Clooney de 2010, é uma história disseminada cada vez mais para a nossa realidade. Profissionais, treinados para comunicar aos trabalhadores o seu despedimento. Cada vez mais em Portugal, existem escritórios de advogados especializados em apoio jurídico e consultorias a empresas em fase de reestruturação. Muitas vezes, contratados para coordenar processos de despedimento colectivo e lay-off. Percorrem o país de norte a sul, para dar aquela notícia que ninguém quer receber. A par destes profissionais também os psicólogos especialistas em Recursos Humanos, também têm tido muita procura, por parte das empresas que não querem fazer o trabalho mais complicado.

Como todos já deveriam saber, o Governo está cada vez  mais "Nas Nuvens" (como o título do filme em questão) e a realidade vai-nos mostrando números assustadores. As empresas tentam escapar aos impostos destruidores e canalizam as soluções para a vertente mais frágil, ou seja a dispensa sistemática de funcionários. Perante o Estado, pedem timidamente a redução da carga fiscal mas avançam sempre com ideias, sobre a forma de se poderem descartar, das suas responsabilidades e enfraquecer os direitos adquiridos dos trabalhadores. A balança cada vez está mais desequilibrada e sob a capa de uma crise que é real, existe muita gente a querer tirar proveito desta situação. Nunca o Tribunal de Trabalho teve tantos processos pendentes como hoje em dia, existem audiências a ser marcadas para Dezembro de....2013!!!!!

Achei curioso o Primeiro Ministro, congratular-se no dia da greve geral, com toda a população que decidiu ir trabalhar.Que remédio, temos nós? -Como é possível, a uma pessoa com este cargo, alienar-se e não conseguir observar, especialmente no sector privado, que ninguém arrisca ser apontado como potencial sindicalista, agitador e outros títulos abusivos por parte da entidade patronal, de forma a ser um  próximo forte candidato a ir para o olho da rua.




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Willy Ronis

                                        " Pequeno parisience".(1952) /Rapho/ Eyedea/ Contacto

                                            "Boulevard Verbena " (1947)/Rapho/ Eyedea/ Contacto

                                 "Cruzamento da  Rue Vilin/ Rue Piat " (1959)/Rapho/ Eyedea/ Contacto

                                          " Os apaixona dos da Bastilla" (1957)/Rapho/ Eyedea/ Contacto

                                              " Chuva na Place Vendome " (1947) /Rapho/ Eyedea/ Contacto

Na sequência da apresentação dos Grandes Mestres de Fotografia, Willy Ronis é um vulto muito especial e que me agrada por diversas razões. A primeira das quais, porque se trata de um homem de esquerda, que lutou sempre contra os despotismos, o fascismo, e a ganância do poder. Depois porque é um humanista de mão cheia e a terceira razão porque retratou Paris, de uma forma ímpar e eu sou um apaixonado por Cidade das luzes. Willy Ronis, nasceu precisamente em Paris, em 1910, o seu pai era fotógrafo, mas ele não quis seguir as pisadas do progenitor , pelo menos na sua juventude. Optou pelo desenho e pela música. Mas foi sol de pouca dura, já que teve de recorrer em 1932 ao estúdio do pai, fotografando de início  casamentos e baptizados. Por lá se manteve até à morte deste em 1936. Com o avanço do fascismo pela Europa, começou a usar a fotografia como arma de luta. Foi colaborador da resistência durante a ocupação nazi, e publica nesta altura as suas primeiras imagens na imprensa. Em todas elas, está bem patente a sua preocupação em mostrar uma forma de reivindicação social e as ideias de esquerda. No final da 2ª Grande Guerra e após o seu casamento, o trabalho que produz começa a ser reconhecido mundialmente, imagens do regresso dos prisioneiros  que escaparam aos campos de concentração nazi, foram publicadas na Point de Vue, Time, Life  e Picture Post. Filiado no Partido Comunista Francês, tornou-se amigo do poeta Luis Aragon. Por essa altura continuava a retratar as manifestações, as greves e as ocupações fabris. Um desses exemplares, de carácter sindical, foi publicado nos Estados Unidos, acompanhado de uma crítica depreciativa, o que lhe provocou desagrado. Reagiu, comentando o seu  ponto de vista sobre a "imprensa imperialista". A partir daí, o seu nome entra na famosa "lista negra" e a imprensa "anglo-saxónica" prescinde da sua colaboração.

Passa por uma fase de esquecimento e na década de 70, a revista Photographe resgata a importância da sua obra. Em 1980, foi nomeado presidente honorário da Associação Francesa de Repórteres Fotográficos. Em 1983, Ronis legou o conjunto da sua obra ao Estado francês.
 

 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

The Charles River

Quando chega a altura das eleições nos Estados Unidos, lembro-me sempre dos anos que passei em Boston. Tive a sorte suprema de quando cheguei aquela parte do mundo, uma conjugação de factores, abriram-me muitas portas. Primeiro, e a mais importante, a família que me recebeu de braços abertos e proporcionou-me uma adaptação suave e calma. Um emprego à minha espera, e quando refiro este pormenor, estou-me a lembrar dos muitos portugueses que ultimamente têm rumado a outras paragens, sem terem uma perspectiva do que irão encontrar, e muitas vezes têm de regressar, porque entre as promessas e a realidade, a diferença, muitas vezes é colossal e intransponivel. Uma das cidades mais eclécticas que poderia encontrar a nível mundial, dado que vêm desaguar a estas paragens, as comunidades mais díspares, á procura de construir os seus sonhos. A razão principal passa por esta cidade acolher duas universidades como Harvard e o MIT, a conjugação destes factores só por si, poderiam propiciar aquele ambiente descomplexado e a coexistência harmoniosa do respeito pelas pessoas diferentes.

Deixei para ultimo, um dos factores que mais importância teve na minha prolongada estadia naquele País. Quando ali cheguei no inicio dos anos 90, era Clinton o inquilino da Casa Branca e garanto-vos que se fosse um republicano a minha vida teria outro rumo, de certeza absoluta. Senão vejamos, no que diz respeito à politica seguida por o último republicano que habitou a cadeira do poder e falando concretamente na emigração, foi um autêntico desastre. Aliás, ainda estou para descobrir qual foi a área governamental aonde esse senhor tenha feito algo de positivo? -Tentou colmatar as suas deficiências naturais com decisões difíceis de definir, sem chegarmos ao insulto puro e duro. Após o 11 de Setembro, penso que muita gente inocente foi tragada por decisões indiscriminadas, gente que pertencia a comunidades  que na sua génese, ajudaram também a construir este País. A vontade indómita de dificultar a vida dos emigrantes roçou a xenofobia, principalmente os que tinham origem árabe. Ainda passou pouco tempo, portanto, depois de 8 anos de gafes atrás de gafes, seria imperdoável, os americanos darem oportunidade novamente a um republicano de se sentar naquela cadeira. Eu sei que Romney não é Bush, mas as suas ideias parecem ser similares, é melhor não arriscar!!!

Como estamos em noite de eleições e concluindo o meu raciocínio. Prevejo e desejo uma grande vitória de Obama, (apesar de me ter desapontado nalgumas reformas prometidas e não concretizadas neste primeiro mandato) e que neste segundo mandato seja mais fiel às suas ideias originais. Quanto a Boston, estará sempre no meu coração e um dia, eu sei que irei voltar às margens do Charles River e nunca perder o meu direito a sonhar.




quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A metamorfose de Narciso

Aos poucos fui descobrindo que o espelho reflectia algo diferente da imagem que imaginava de mim próprio. Eu não poderia ser aquilo, ou pelo menos só aquilo. Faltava algo ali, eu possuía traços que se foram aperfeiçoando e não reconheci essa evolução naquela visão distorcida. Estava fadado para grandes cometimentos, reconhecerem a minha singularidade, seria um acto de mera constatação, por todos os que me rodeavam. Ter consciência desta beleza intrínseca e avassaladora não poderia ser desmistificada por uma mera ilusão de óptica. Por alguma razão, os Outros, tornavam mais real esta minha certeza, porque passavam ao largo, sem terem a coragem de se aproximar. Caso contrário,  seria um vexame desmesurado a sua incapacidade de traduzirem a minha imagem em palavras. Não se acercando desta minha aura, seria uma forma de se conformarem com a sua nítida debilidade.

Os espelhos, portanto passaram a ser um inimigo que importava declarar guerra. Talvez aproximando-me de um lago de águas cristalinas e isentas de qualquer movimento, fosse a tradução perfeita da minha certeza. De joelhos, inclinei esta obra de Deuses, situada acima dos ombros e deparei-me com algo perturbador. Uma pequena Libélula pousou por instantes nas águas e depositou alguns ovos. Distraído, fiquei assistindo ao desenrolar daquela acção. O tempo foi passando e aqueles ovos deram origem a uma ninfa, um insecto parecido com uma criatura alienígena. Ao descobrir uma planta perto do lago, esta subiu e deu-se uma metamorfose inesperada, transformou-se em algo de muito gracioso. Despiu as vestes repelentes e ao abrir as asas, foi ao encontro de um companheiro. O ciclo de vida prosseguia e eu assistia estupefacto. Interroguei-me perante tal milagre. Se aquela transformação, não seria também exemplo de um pedaço do desenrolar da minha existência?

Narciso, era filho do Deus-rio Cephisus e da ninfa  Liriope, um jovem de extrema beleza que se tornou escravo da sua imagem. Estaria eu, errado nas minhas convicções?- Afinal o que pôde assistir naquela imagem reflectida, não foi mais do que um ser distorcido pelas pequenas vibrações, que uma libélula provocou, ao depositar os seus descendentes na superfície do lago. Há quanto tempo, estaria eu, longe da realidade?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um silêncio ensurdecedor

Expandir Anos
Dívida das AP em % PIB
Mais 199155,6
200048,5
200150,9
200253,5
200354,9
200456,3
200561,4
200662,5
200768,3
200871,7
200983,2
2010Pro93,5
2011Pro108,0
Fontes/Entidades: DGO/MFAP–BP–INE, INE–BP, PORDATA
Última actualização: 2012-09-28
Em Junho deste ano já ultrapassámos os 117,8%!!!!
 Estes dados poderiam alarmar qualquer cidadão português, por muito leigo que fosse nestas matérias, mas pelos vistos, nós continuamos a fazer como a avestruz e não tiramos a cabeça da areia enquanto, não chegarem boas notícias. Os poucos que continuam por aí a lançar alertas aos quatro ventos, são apelidados de demagogos, de velhos do Restelo, de alarmistas, de não sermos solidários com o esforço comum, de pouco patrióticos, etc.. Anda por aí, muita gente desesperada com a situação dificil em que se encontra, mas estão formatados para não destoar da letargia generalizada, e embarcam nessa toada, mesmo que com a corda no pescoço. Se alguém ultrapassa esta barreira e protesta  ou seja dá voz à sua indignação, logo vêm aqueles olhares dos demais, reprovando a falta de recatez e bom senso. Afinal de contas, já nada é escondido, cada vez mais existe provas das derrapagens sucessivas, nas metas traçadas por este Governo, mesmo assim o povo quando reage, é muito na base do protesto sectorial. Hoje são os estivadores, amanhâ os jornalistas, depois o pessoal dos transportes, depois os outros e mais os outros... Unidade, acontece de longe a longe  e os governantes até ficam abismados com esses aglomerados na rua, não fossemos nós  o melhor povo do Mundo!!!! 
Enquanto o senhor Gaspar ameaça mudar o seu tom de voz, nós continuamos a protestar, mas baixinho.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Grão a Grão...

                                    2004...Manifestação contra a arrogância do  senhor Burroso.


          2010...Manifestação da CGTP na Avenida da Liberdade

 2010...Flashmob junto da Estação do Rossio, contra a Presença dos senhores da NATO em Lisboa
 2011...O dia em que Sócrates acordou para a realidade. O famoso 12 de Março

 2011... 15 de Outubro, o dia em que as escadas da Assembleia da República foram ocupadas pelo povo.
 2011...Acampada dos indignados no Rossio, durante mais uma assembleia.

 2012...Terreiro do Povo, durante uma manifestação da CGTP
 2012...O pessoal da cultura decidiu afirmar também "QUE SE LIXE A TROIKA"
 2012...Um 5 de Outubro privado, que correu muito mal!!!!
2012... 15 de Setembro. Um dia de grande mobilização e o inicio da mais que anunciada queda de um Governo desgovernado.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um fim de semana diferente

 Enquanto na capital, comemoravam pela ultima vez a Republica, eu rumei a norte.Exactamente à região de Aveiro.
                                                Um belo passeio de moliceiro na ria de Aveiro

                                       ..."  Vão no longe moliceiros
                                                De asas brancas, a voar,
                                                    Ao vento, leves, ligeiros,
                                                          Por sobre a ria a singrar.
                                                                 Vão no longe moliceiros
                                                                         De grandes velas a arfar..."

                                             Poema: Amadeu de Sousa (in Colectânea Poética)
                     

 
As imagens não fazem justiça à beleza deste local. O Buçaco era daqueles lugares que nunca fomos, mas que toda a gente diz maravilhas, portanto a minha expectativa era enorme. Superou tudo o que eu esperava!
Sem dúvida que o local foi talhado por transformações ao longo dos séculos, mas o virtuosismo de um lugar muito especial, nunca foi beliscado. Que bela manhã, meus amigos.
Cedros, ciprestes, abetos, sequóias, tílias, ulmeiros, loureiros, faias, fetos gigantes, acácias e freixos, provenientes da América, da Austrália, dos Himalaias ou de tantos outros locais do Mundo, foram plantados e cuidados por gerações de monges Carmelitas Descalços que viveram em clausura e contemplação por mais de 200 anos, entre 1630 e 1834, neste magnífico altar da Natureza, sagrado e protegido por bula do Papa Urbano VIII de 1634.
Com a descoberta de todos estes recantos, vamos cada vez mais tendo a certeza de que vale a pena lutar por dias melhores, afinal de contas, deixaram-nos este legado, que não merece ter estes indecorosos timoneiros.