terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Odisseia do Serviço Público.

No dia em que aconteceram mais esclarecimentos de Relvas na comissão parlamentar, sobre o futuro da RTP, apetece-me falar da nova grelha de programação deste canal. Depois de rumores de uma privatização quase consumada, passou-se a uma solução parcial e ao fecho do Canal 2. Mais tarde ouvimos falar de concessão a um grupo angolano e finalmente estamos na fase da pura e simples reestruturação do canal público. Solução esta que satisfaz o CDS e alivia mais uma vez uma desavença com o outro partido de coligação. O mercado não está  para brincadeiras e os valores oferecidos seriam sempre abaixo do potencial deste canal, esta a principal razão do finca pé de Paulo Portas.

Mas à margem destas negociatas de bastidores, uma nova grelha arrancou, gostaria de destacar para já um ou dois programas que foram apresentados recentemente e que me surpreenderam pela positiva. A verdade é que eu cada vez tenho menos tempo e pachorra para estar em frente à televisão. Tento ser o mais selectivo possível. Bruno Nogueira já nos habituou a projectos diferentes e de qualidade inquestionável. Basta recordar os saudosos "Contemporâneos", ou o "Ultimo a Sair". Agora, ele e o Gonçalo Waddington resolveram presentear-nos com esta "Odisseia". Uma série de autor, em que mais uma vez a RTP teve a coragem de apostar e ainda por cima em horário nobre. Eu sei das poucas hipóteses que este projecto poderá ter em termos de audiências, mas acontece que neste País, desculpem a minha honestidade, será como dar "pérolas a porcos". Os portuguesinhos estão preparados para assistir a 4 telenovelas de seguida na SIC, durante toda a semana, ao inenarrável concurso "Casa dos Segredos" na TVI, mas quando a fasquia sobe um pouco, poucos se atrevem a perder tempo a entender algo de mais complexo.

Serviço público é também aquilo que a RTP apresenta com o novo "E depois do Adeus". Uma série de ficção com muita qualidade que retrata fielmente aquilo que se viveu a seguir ao 25 de Abril, no que diz respeito ao regresso e às dificuldades que encontraram, milhares de pessoas vindas das ex colónias. Aliás esta série, vêm no seguimento de uma outra que fez história, também na RTP, com protagonistas como Miguel Guilherme e a excelente Rita Blanco, com o título "Conta-me como Foi".

Os meus mais sinceros parabéns ao Director de Programas deste canal, Hugo Andrade, por ter a coragem de remar contra a maré e não escolher o facilitismo em prol das receitas da publicidade e outros jogos de interesse.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Impacto nulo.


Miguel Sousa Tavares afirmava hoje, na SIC, até o Pato Donald seria capaz de estar à frente do PSD nas sondagens habituais, neste momento.


Uma alusão clara, à fraca prestação de Seguro, enquanto líder da oposição. Quanto à sua competência, penso ser razoável afirmar que até no PS, a paciência começa a faltar. Só mesmo aqueles que estão sempre na sua sombra e querem garantir um tacho, na hora de assumir possíveis responsabilidades governativas, continuam indefectíveis. Não me lembro, de uma oposição PS, mais amorfa e anémica como esta, protagonizada por Seguro. 

A par deste infortúnio, dos portuguesinhos só terem voto para os rosas e os laranjas, ainda temos a malfadada sorte de termos um "abstencionista violento"  ainda no activo. Quando mais necessitávamos de uma oposição com coragem de apresentar rumos divergentes, daqueles que nos apresentam diariamente,  de uma forma coerente e clara, temos esta liderança ineficiente.

Cada entrevista que concede, mais dúvidas ficam na nossa cabeça. Diz estar preparado para assumir o poder, mas não promete nada. Ficamos com a nítida sensação que seria mais do mesmo. Baralha e volta a dar, mas o jogo está viciado e os truques, nem os consegue disfarçar. Os adversários, quando ele vai a jogo, estão descansados, porque dali só sai "bluff". 

Nos corredores daquele palacete do Largo do Rato, António Costa passou a ser um nome que ressoa cada vez mais forte, passámos daquela fase dos vagos murmúrios, alguém têm que assumir os comandos. Mas o presidente da Câmara, parece-me muito indeciso. Na "Quadratura do Círculo" parece-me um homem decidido a pegar nas rédeas do seu partido, mas depois também dá ideia de prolongar a sua estadia na edilidade para preparar estofo para se candidatar a Belém. Parece-me urgente os portuguesinhos terem conhecimento da sua decisão, às vezes costuma-se dizer, quem tudo quer tudo perde. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A escrita é uma forma de liberdade

Existe hoje em dia muita gente na praça pública a opinar sobre tudo ou quase tudo. Eu costumo colocar alguns na minha prateleira privada e ir buscá-los para me esclarecer sobre algo que pretendo clarificar, confio nas suas opiniões e raramente perco oportunidade de os ouvir.Os meus eleitos, são geralmente pessoas que ao longo de muito tempo, habituaram-me às duas qualidades que eu acho primordiais. Independência e inteligência  Apesar das alternâncias do poder, essas pessoas continuam a demonstrar clarividência na maioria das opiniões e passam ao lado das pressões. Preferem ficar de lado, muitas vezes, do que simplesmente alinhar.

Clara Ferreira Alves, é uma dessas mentes esclarecidas, a quem eu aprendi a respeitar desde os tempos do seu excelente programa na RTP2, o "Falatório" em 1996. Já nessa altura, e se tivermos a curiosidade de rever alguns desses episódios, podemos constatar da excelência dos convidados por si escolhidos a dedo. É  uma pérola, que eu recomendo visionamento urgente na RTP Memória. Mais recentemente, temos tido a  oportunidade e o prazer de a ver no programa da SIC Notícias, "O Eixo do Mal". E naquele painel, apesar de estar muito bem acompanhada, ela destaca-se pelo discurso escorreito e destemido. Uma verdadeira mulher de coragem, que não embarca em opinar superficialmente, corta a direito e doa a quem doer, as ideias são construídas, sem ter medo de polémicas.

Acabei de ler o seu livro "Estado de Guerra" (recomendo vivamente) e pontualmente leio também as suas crónicas no "Expresso". A sua escrita é também reveladora da sua vontade de fugir aos lugares comuns e vinca bem a forma como sempre encarou a vida. Olhos nos olhos e sem hipocrisias.

Esta cronista, jornalista e escritora, já dirigiu a casa Fernando Pessoa, entre muitas outras coisas, um dia afirmou que "a escrita é uma forma de liberdade", e gostaria também de receber o prémio Nobel. Talvez não ganhe, mas o prémio de uma das mentes mais esclarecidas e incómodas do nosso tempo, esse não lhe poderemos negar.



terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Aventura de Obélix na Rússia.

Quando ouvi a pretensão do Presidente francês, taxar os mais ricos com 75%, julguei que não passaria de mais uma promessa eleitoral. Afinal, por toda a Europa, os políticos para melhorarem a sua imagem perante os mais fracos, também tiveram ideia semelhante. Mas fiquei espantado porque em França, essa mera pretensão teve mesmo para se tornar real, não fosse o Tribunal  Constitucional colocar um entrave na sua prossecução. François Hollande não desiste e diz que irá conseguir impor essa lei, embora noutros moldes, mais de acordo com a Constituição.

A escassa percentagem de franceses, atingidos com essa ideia, mexeram logo os cordelinhos, a comunicação social tratou de dar voz a essa indignação. À cabeça desse protesto, está Gerard Depardieu, que logo decidiu pedir cidadania belga e rumar de bagagem e fortuna para o outro lado da fronteira. Não satisfeito com esse sinal de protesto, nada melhor do que pedir passaporte russo a Putin!!?!

Eu acredito que 75%, seja algo de inaceitável, mesmo atendendo aos rendimentos superlativos destes senhores, mas daí até ao desespero, de ir pedir ajuda a Putin, é um passo muito largo. Ainda por cima, perante a presença de uma taxa de 13% ( o imposto sobre os grandes rendimentos) idolatrou o líder russo e elogiou a democracia naquele País. Como é possível, eu não sei.

Com o tratamento que o Gaspar e seus amigos cuidam das grandes fortunas em Portugal, mais a veneração que lhes prestam, eu não sei porquê que o Depardieu, não veio até cá. Estaria completamente à vontade, aliás lembram-se do episódio recente com Soares dos Santos. Transferência do capital maioritário do Grupo para a Holanda, com o Governo impávido a assistir... uma fuga concertada nalgum jantar de cortesia, entre os personagens habituais nestes filmes. Ao actor que ultimamente representa Obélix nas telas,  estas suas ultimas afirmações  e decisões, só podem ser resultado de alguma coisa vinda do céu que lhe tenha caído na cabeça.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Testemunho vai explodir!


     3ª-FEIRA, 4 DE JANEIRO DE 2011   Entrega de testemunho.


"-Esta passagem de testemunho explosiva é digna de assustar qualquer um. Mas vejamos, agora que iniciámos mais um ano, acredito que muitos de nós têm sempre uma ténue esperança que afinal estão a pintar o quadro com cores demasiado sombrias e existe uma luz ao fundo do túnel. Porquê tanto pessimismo afinal só ainda vamos na primeira semana do ano e já aumentaram os transportes, a gasolina, a luz, o gaz, a água, o IVA cerca de 2% nalguns produtos e noutros de 6 Apara 23%, cortes nas prestações sociais, descida dos salários dos funcionários públicos, os medicamentos mais caros devido ao cancelamento de comparticipação do Estado na maioria deles, aumento das portagens e o agravamento das deduções do IRS. Portanto não vamos começar já a pensar no pior.
-Alguns portuguesinhos até costumam dizer que ultimamente a culpa deste ambiente negativo é dos próprios jornalistas e economistas bem falantes que insistem em falar na crise por qualquer razão. A obsessão de realçar o aumento do IVA em vez de falarem do programa tecnológico do Engenheirinho?- A opção de se colocar nas primeiras páginas o aumento da despesa do Estado em vez de se falar no esforço que os nossos governantes têm feito no estrangeiro, estendendo as mãozitas no Brasil, na Venezuela, na Líbia, etc... Julgarem em praça pública comportamentos de administradores da Carris, do Metro, da EDP, da CGD quando poderiam salientar que todos estes senhores estão imbuídos de um elevadíssimo espírito de sacrifício ao aceitarem estes cargos de muita exposição pública quando poderiam estar a exercer as mesmas funções numa empresa privada.
Acreditem que apesar de toda esta minha ironia existe muita gente que apesar de tudo, prefere continuar a colocar a cabeça na areia e esperar que a tempestade passe
."

Ao fim de quase 5 anos deste blogue, eu transcrevo pela primeira vez um texto do principio de 2011, deste meu "abc dos portuguesinhos" A razão principal, salta à vista. É arrepiante sentirmos, que estas mesmas palavras poderiam ser hoje escritas, não  perderam actualidade nenhuma. Talvez, com outros personagens, com outras situações limite e ainda mais endividados!

Quanto ao cartoon, então apresentado, basta imaginar outra situação, mais actual. Um senhor de vestes brancas, com o ano de 2013 bem estampado. O cartucho de dinamite, rebentou, ele fica chamuscado e surpreso. Enquanto observa o senhor de barbas, (ano velho) retirar-se apressadamente pelas portas dos fundos, expressando uma cara de alívio profundo.