terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Grillo Falante

Este "tsunami" político que acaba de acontecer na Itália, deveria merecer da nossa parte, toda a atenção. Por alguma razão, sucedeu algo  de muito parecido nas ultimas eleições na Grécia. Simplesmente, a diferença aqui registada é que a nova força que irrompeu, o Syriza, é baseado numa coligação da esquerda radical grega, portanto do mesmo espectro político. O partido de Grillo, grande surpresa em Itália, não têm qualquer ligação com partidos políticos. Diz-se, aliás, contra o sistema vigente, baseado nas mesmas soluções, os personagens de sempre e caindo invariavelmente  nos erros do costume!



Existe outra semelhança entre estas duas recentes eleições, tanto o partido de Alexis Tsipras, o segundo mais votado na Grécia como agora o Movimento Cinco Estrelas, não desejam fazer coligações para viabilizar qualquer solução estável para os respectivos países. Porque manda a coerência dos seus discursos, que prometendo aquilo que prometeram durante as suas campanhas eleitorais, não iriam pactuar mais com o poder outrora instituído. Seria mais do mesmo.

Este novo panorama político na Europa revela que as novas gerações desejam uma mudança. Revelam também o despertar para estas questões, agarrando o poder de decisão nas suas mãos, já que os seus antecessores estão a deixar-lhes um legado catastrófico. Urge, agir o mais breve possível, romper com estes ciclos mais ou menos viciosos, de mudança no poder. Estas percentagens agora obtidas, tanto de Bersani, como de Berlusconi, ainda revelam aquele voto conservador das gerações mais velhas, mas cada vez são mais fracas. A tendência de alternância de poder, pelas mesmas forças partidárias, modelo que já vêm desde o final da Segunda Guerra Mundial, está a esgotar-se. Felizmente para todos nós.

Como sempre, a nós portuguesinhos, as mudanças vêm sempre por arrasto e muito mais tarde. Tenho esperança que o PS, o PSD e o CDS, (principalmente estes) tenham uma  lenta ou rápida agonia, até ao seu ocaso. Por enquanto os jotinhas, a desenvolver a sua ascensão nos respectivos aparelhos partidários, talvez possam não ter tempo de "mamar" à nossa custa.

Coincidência ou não, Gepetto criou um boneco mentiroso que se chamava Pinóquio, mas a história conta-nos, que a fada logo criou um Grillo que seria a consciência do boneco. Talvez estejamos na presença de um cómico que representa a consciência de uma casta de homens que não merecem o lugar que ocupam.






quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Já agora, vamos cantar todos!


À cerca de dois anos, escrevi neste blogue, o importante que seria, sairmos à rua para demonstrarmos o nosso repúdio pela corja de políticos que nos governava, liderada pelo ex-engenheirinho e recente filósofo, Sócrates de seu nome. Assim, o 12 de Março foi um bom impulso para nos vermos livres desses senhores. No passado 15 de Setembro, essa demonstração de força reflectiu-se numa marcha-atrás comprometedora, na espatafúrdia ideia de aumentar a TSU.

Muita gente começa a interrogar-se sobre o estado da nossa democracia?
Vivemos momentos difíceis, o que por vezes tira alguma clarividência aos nossos julgamentos e é necessário diagnosticar o cerne do mal que padecemos. Está mais do que provado que apenas 1% da população portuguesa teve até hoje oportunidade de escolher o senhor que se senta em S.Bento, em cada eleição desde o 25 de Abril. A forma como estão escolhidas as pessoas é automaticamente a antítese do que seria uma verdadeira democracia. Ainda por cima, a bipolaridade esquizofrénica das nossas opções, ainda mais limita as hipóteses de colocarmos ali alguém que não seja fabricado e formatado, pelos aparelhos partidários.

A partir do momento em que começamos a sofrer na pele,  as vicissitudes desta crise profunda, todas as pessoas escolhidas por estes dois partidos para representar a vontade do povo nas urnas são logo estigmatizadas, ou seja, ficam registadas com o crivo de inconsequentes, corruptas, de estarem ligadas a grupos económicos, mentirosas, etc..., simplificando, características nada abonatórias para o normal desempenho a que foram destinadas. E o povo não se costuma enganar, mais cedo ou mais tarde os buracos começam a aparecer. Começamos a duvidar da própria Constituição, interrogamo-la constantemente, porque já nem essa consegue defender-nos das atrocidades cometidas.

 Toda esta geração que vive no desemprego, em trabalhos precários, que foi obrigada a emigrar ou ainda aqueles que estando a estudar não vislumbram qualquer perspectiva de uma saída com futuro, esses mesmos estão a acordar e passa por eles uma mudança de paradigmas. Temos de mudar de modelos e no entanto fazer por preservar os valores de Abril. A juventude, penso que terá aqui uma palavra essencial neste processo contra os poderes instituídos. Por tudo isto, cada um de nós deveria agir já, antes que seja tarde demais e estar presente nesta manifestação.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Édouard Boubat

                                   Cerejeira em flor (1983). Édouard Boubat
                                              Parque de Saint-Cloud (1981)


                                               O inicio da película (1964)


                                      Primeiro nevão no Jardim do Luxemburgo (1955)


                                                             Nazaré,(1956)

Mais um Mestre de fotografia francês, nasceu em 1923, na sempre incontornável, Paris. Um dia disse que "...Em fotografia há sempre uma dimensão que ultrapassa a aparência. É o que eu chamo o invisível ou, se preferir, a atmosfera... " Ele conseguia transportar as atmosferas que captava de uma forma sublime, foi pioneiro da fotografia humanista francesa, a par de Doisneau. 

Antes de enveredar definitivamente por esta carreira brilhante, passou dias difíceis durante a Segunda Guerra Mundial, ao ser enviado para um campo de trabalhos forçados, em Leipzig. Marcado por esta terrível experiência, chega a Paris com uma vontade indómita de viver. Começa então a interessar-se por fotografia em 1946. Foi com uma Rolleicord 6x6, que ele captou o seu primeiro grande êxito, "a Menina com Folhas Mortas". Esse trabalho que lhe viria a dar o prémio Kodac e que foi exposta em 1947, na Feira Internacional de Fotografia em Paris, de uma forma, até para ele, inesperada. Em 1949, conhece Robert Frank, um fotógrafo da sua geração, nascido na Suiça, mas radicado nos Estados Unidos. Dessa amizade, resultaram experiências partilhadas, viajaram pela Europa e nessa altura troca a sua máquina por uma Leica. Começou a publicar numa das revistas de actualidade, mais importantes em França, a "Réalités". 

O seu trabalho como foto-jornalista, caracterizava-se por preencher com imagens simples  e planos apertados, situações à partida, despidas de qualquer interesse relevante, mas que ressaltava ali uma alegria e esperança, dignas de serem apreciadas. Ele viria a ser apelidado de "correspondente da paz", pela mensagem que transmitia, através das imagens.

A excelência do seu trabalho, é bem patente, no número de prémios  que o galardoaram.Nos seus últimos anos de vida, dedicou-se a experiências com a luz, numa série dedicada às flores e a uma reportagem especial, inacabada, sobre o Circo Romanes, de Paris. Os seus restos mortais, repousam no lugar indicado aos grandes homens da cultura francesa, Montparnasse. Morreu em 1999, com 75 anos e apenas destaco algo de muito interessante nas suas deambulações por este mundo. A última fotografia deste apontamento, foi tirada na nossa praia da Nazaré, aonde ele veio fazer uma reportagem em 1956. Esta foto, teria grande sucesso a nível internacional.





quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um Murmúrio em Montemor







     Visitei Montemor-o-Novo, tirei algumas fotos do seu lindíssimo castelo altaneiro e gostava de recordar, um filho desta terra, que no meio literário teve um pouco esquecido, mas recentemente voltou a publicar. Falo de Almeida Faria, nascido junto destas muralhas em 1943.

                     
                   
     


 Com 19 anos publicou a sua primeira obra, "Rumor Branco", muito considerada pela critica de então e elogiada especialmente por Virgílio Ferreira. Durante muitos anos, este livro e outros que posteriormente escreveu, como  "A Paixão " de 1965, ou mesmo a tetralogia  Lusitana, composta por "Cortes" de 1978, "Lusitânia" de 1980, "Cavaleiro Andante" de 1983, estiveram desaparecidos dos escaparates das nossas livrarias, esgotadas que foram as suas edições originais.



Durante anos foi considerado um escritor de culto.
A Assírio Alvim por altura do 50º aniversário da publicação de "Rumor Branco" voltou o ano passado a reeditar esta obra e prepara-se agora, para publicar novamente o resto dos seus livros mais antigos.
Almeida Faria não publicou nada durante 12 anos, segundo ele, porque estaria muito ocupado com o ensino de Estética na Universidade Nova de Lisboa, ele que se licenciou em Filosofia na Universidade de Lisboa, no principio dos anos 60.

Foi convidado a escrever sobre Goa e Cochim pelo Centro Nacional de Cultura, cidades ainda com vestígios da nossa presença. Assim nasce "Murmúrio do Mundo", lançado o ano passado, uma prosa de viagens, bem referenciada pela maioria dos críticos mais exigentes da nossa praça.






Quando ao longo de 150 páginas este livro faz-nos transportar para estas paragens, que desconhecemos por completo, de uma forma mágica e ao mesmo tempo escorreita, é puro prazer. Espero que tenham a vontade de descobrirem este pedaço da Índia que já testemunhou a grandeza do nosso império colonial, através da simplicidade das palavras deste montemorense.



       

A sua terra natal, vê-se reconhecida por esta referência da nossa cultura e deu o seu nome à Biblioteca Municipal. Uma cidade alentejana que tal como outras soube cuidar dos seus, atempadamente, algo que o Secretário de Estado da culturazinha, tarda em reconhecer. Os valores da nossa cultura têm de ser preservados, apesar de todas as crises.