Carta Aberta a um Amigo de Abril.
Caro amigo, a festa, apesar de tudo continua linda!
Faz um ano desde que partiste e as noticias não são animadoras. Grândola ouviu-se mais, mas o gajo é teimoso e persiste nesta política de austeridade.
Alargámos os prazos da divida, mas o cinto já não têm mais buracos e as famílias desesperam. Temos uma dieta à base de uma receita errada. Os ingredientes foram mal calculados e o resultado é desastroso.
Temos muitos elogios à forma como nos estamos a portar, mas a origem dos encómios são suspeitos. Eles estão a ganhar fortunas com o nosso sacrifício.
Repetem vezes sem conta, não somos a Grécia, nem o Chipre, mas cada vez estamos mais parecidos com Portugal dos anos 50 e 60, pelo menos nas condições de trabalho, na perda de direitos laborais adquiridos, nos números do desemprego, no acesso à educação, à saúde e à justiça.
Gostava de saber mais para te contar Miguel, mas eles escondem a verdade, omitem as ideias de um liberalismo atroz que perpassa desde Atenas, a Bruxelas, a Nicósia ou Lisboa. As tuas ideias continuam vivas nas nossas lutas, mas essa alegria de viver a política de uma forma transparente e salutar, a virtude de não se contradizer em lugares distantes como a faixa de Gaza, Beirute ou nos corredores do Parlamento Europeu. isso nós temos muita saudade.
Tal como Chico dizia "...Já murcharam a tua festa pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim..." de certeza que iremos sempre descobrir uma semente que irá florescer e dar esperança num futuro bem melhor. Os cravos nunca irão murchar, enquanto seguirmos as tuas convicções. Até sempre Miguel...