quinta-feira, 25 de julho de 2013

Herberto, sempre!



                                  "...Fosses tu meu grande espaço e eu tacteasse
                                           com todo o meu corpo sôfrego e cego...."

                      Herberto Helder
                      Servidões
                           Assírio & Alvim
                              2013

                     Ao longo dos anos, fui ponteando aqui e ali, este blogue com exemplos de portugueses de excelência. Hoje, decidi colocar este nome maior da nossa poesia, também nesse rol de pessoas aqui referenciadas. E, se o faço só agora, tenho uma explicação muito lógica. Ou talvez duas ou três. Vivemos um tempo de enorme incerteza, um tempo de promiscuidade entre a realidade constituída por duros golpes palacianos, com frequentes facadas nas costas do parceiro político e a senilidade mental de um presidente arredado da razão. Esta ultima semana foi dura demais para os portuguesinhos. Ora, nada melhor que recordarmos nesta altura, um homem que apesar de o considerarem um misantropo, sempre conseguiu afastar-se de toda esta realidade, apodrecida por vaidades bacocas e galanteios enjoativos. O lançamento de uma obra sua, é sempre uma lufada de ar fresco. Nada melhor que centrarmos as nossas atenções num momento de excelência, no depauperado panorama cultural do nosso burgo.
                 
O poeta dos poetas, como muitos o consideram, publicou aos 82 anos, a sua mais recente obra, com 70 poemas originais. "Servidões", um livro que nesta altura, já será de todo impossível encontrarmos nos escaparates das livrarias. O autor sempre fez questão de publicar uma só edição de cada livro que escreveu, e assim, estes três mil exemplares eclipsaram-se em menos  de dois meses. A sua aversão a entrevistas, o facto de não  aparecer em qualquer acto social, a par da recusa de receber o Prémio Fernando Pessoa em 1993, transformaram tudo o que o rodeia, com uma aura de grande mistério, adensando ainda mais a curiosidade em relação à sua obra. Que tenhamos sempre o discernimento para procurar obras de autores maiores da nossa cultura, para compensar o aziago dos nossos dias.


                                 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Por favor retire-se!

Pelos vistos, vamos ter um verão político, muito intenso. As conversações entre os três partidos, que levaram o País a este caos, continua. Entretanto, temos um governo a tentar despachar certas negociatas que estavam na prateleira, antes que seja tarde. Existem compromissos assumidos que importa finalizar. Este impasse veio desregular toda essa calendarização, remetendo os Ministérios a trabalhar horas extra. Eleições, nem querem ouvir falar de tal hipótese. Agora que tudo estava a correr bem para os bolsos dos mesmos de sempre e muito mal para o País.



Na Assembleia, assiste-se quase diariamente a cenas simplesmente surrealistas!!!
Desde os senhores deputados, que não sabem o que chamar ao ex-demissionário da pasta dos Negócios Estrangeiros ou alguém que irrevogavelmente, não irá ser vice-primeiro-ministro, apesar de tudo fazer para se chegar à frente...
Para cúmulo, Assunção Esteves, a segunda figura mais importante do Estado, começa a vociferar, citações espatafúrdias à mistura com ideias pouco democráticas e perde as estribeiras, ao gritar para as forças de segurança fazerem o seu trabalho!

Eu compreendo, as ultimas semanas não têm sido fáceis, o seu posto está em perigo, agora que se estava a sentir bem naquela cadeira. Esqueceu-se completamente da posição que ocupava, quando citou, Simone de Beauvoir. "Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes.". Seria escusado relembrar a esta senhora, em que contexto foi feita esta frase. Comparar o povo português a nazis, não será muito abonatório para a credibilidade que desejaríamos que tivesse uma pessoa nas funções que exerce. Eu, poderia mais ajustadamente, lembrar, que a mesma Simone de Beauvoir, também disse que, e passo a citar. "Querer-se livre é querer livre os outros." Portanto, essa ideia de mudar as regras de acesso às galerias da Assembleia, não seria uma ideia muito democrática, pois não? -Quanto à causa, das arrelias da senhora Presidente da Assembleia da República, em relação às constantes manifestações de desagrado ali sentidas, lembro~lhe outra citação da escritora e filósofa existencialista, francesa. "É horrível assistir à agonia de uma esperança.".A agonia, é tudo aquilo que sentimos, neste momento, daí os protestos. A esperança, era a de que este governo pudesse ter feito alguma coisa em abono do seu povo. Portanto, será natural que a senhora um dia destes, vá ter que se retirar. VAI TER QUE SE RETIRAR, OUVIU BEM?????

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O verdadeiro artista!



Paulo Portas sai e bate com a porta...irrevogavelmente!!!
Paulo Portas explica a sua demissão.
Paulo Portas sente-se pressionado.
Paulo Portas repensa a sua decisão.
Paulo Portas remete-se ao silêncio.
Paulo Portas reúne-se com o primeiro ministro...
.....uma ........duas .......três....quatro......cinco......seis vezes.
Paulo Portas vai a Belém
Paulo Portas reentra por aquela porta.
Paulo Portas assegura novo protagonismo.
Paulo Portas assegura liderança do próprio partido.
Paulo Portas, um político de ideias claras.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Trocas e Baldrocas.




...de manhã, a senhora de meia idade pediu o café. O lugar estava vazio, as cadeiras ainda estavam por "arriba" das mesas. Ainda se cheirava a fritos da noite anterior, o moçoilo do outro lado do balcão gracejava   da ave madrugadora, ao mesmo tempo, coçava os olhos e ligava as máquinas. A senhora já se sentara a um canto e escutava  sem interesse as primeiras notícias da manhã, intervaladas com muitos anúncios aborrecidos. O chorrilho de impropérios do rapazola, já ela estava acostumada. Acordava sempre desta forma...na terriola, todos o conheciam assim. Não se parecia nada com o pai...raios o partam!

...a manhã estava fresca e luminosa. A senhora continuava no seu canto à espera, mais um quarto de tempo e o sítio estaria embrenhado no seu ambiente habitual. Vozeirões dos clientes costumeiros, com alguma jogatana à mistura. Por enquanto, só o som estéreo daquela telefonia, lhe chegava aos ouvidos. De repente, o locutor divulga uma notícia de última hora. Um governante qualquer, lá da capital, enquanto administrador de uma empresa pública de transportes, assinou uns "sapos" e lesou o Estado em vários milhões de euros. A sua fisionomia teve uma ligeira reacção, um sorriso traquina e pensou lá para os seus botões. Malandros, são todos a mesma coisa. Logo de seguida, questionou-se um pouco perplexa. Assinou uns "sapos"????

...a manhã seguia o seu percurso inexorável por aquelas bandas. A senhora tragou o seu café e olhou de soslaio para o petiz. Este, indiferente, continuava a tentar colocar todos os seus sentidos a funcionar, antes que chegassem mais clientes. A senhora estendeu os seus cêntimos pela mesa e antes de sair, ainda mandou para o ar em modos de desabafo.

..."Oh! Chico vê lá se dizes ao teu pai, que compre outro rádio, porque este, só dá notícias que não se entendem!!"