terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
A ilusão
Quando eu era pequeno, vivia no centro de uma grande cidade, os meus pais tinham um restaurante pequeno e muito frequentado, lembro-me de que existia uma pobreza envergonhada que por vezes nos batia à porta, à procura não de uma esmola mas de comida, afinal aquele era um local aonde se poderia afagar um pouco o estômago. Muitas destas pessoas acabavam por se fidelizar neste local já que os meus pais nunca diziam que não. Alguns deles faziam pequenos recados para compensar a sopita. Outros, a bússola mudou o seu Norte e foram bater a outras portas. Estamos a falar dos anos 70, o definhar da ditadura e os anos logo após a Revolução, tempos confusos aonde acabámos por receber toda aquela gente vinda das ex-colónias com uma mão à frente outra atrás, milhares que se abrigaram aonde calhou. Os Governos de cariz provisório caíam como tordos, uns após os outros, o que hoje era segurança amanhã era insegurança, as leis que se ditavam hoje, amanhã eram anuladas, etc... um panorama que não era brilhante.
No final dessa década, principios dos anos 80' eu ouvia falar que tudo iria melhorar, com tempo, seriamos um povo plenamente integrado na Europa, com direitos e deveres que nos trariam esperança para gerações futuras, a consolidação da democracia iria transformar muitas das nossas fragilidades. O amanhã era tido como certo, após o despotismo e a clausura de 40 anos, deixaríamos de alienar o povo com o fado do destino certo. E a FOME?????- Isso seria básico e elementar, irradicar esse flagelo da nossa sociedade, seria fundamental.
Toda esta introdução, para que eu possa entender o quotidiano e exprimir toda a frustração desta minha geração perante o desalento dos mais novos e também daqueles que trabalhando uma vida inteira, de repente, caiu o céu nas suas cabeças e lutam desesperadamente para que o vizinho não note a sua amargura ao ver-se obrigado a bater a muitas portas, porque os filhos esperam alguma coisa em casa.
Será que estou a distorcer a realidade(?), afinal de contas estamos em pleno século XXI e temos outras "armas" para combater este mal. - Mas então, o porquê de eu sentir que afinal andámos iludidos com tanto provincianismo bacoco? -Muita gente continua a olhar para o lado enquanto todo este panorama não nos bate à porta. Será que afinal, somos mesmo PARVOS como eles dizem?- Que me interessa ter muitas auto-estradas, muitos estádios de futebol, muita tecnologias se no fim o que realmente interessa, continuamos a anos luz de lá chegar!!!
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