quinta-feira, 29 de julho de 2010

Matar a tradição!


Todos os anos, nesta altura os políticos vão de férias e a comunicação social vira-se para os incêndios e o calor que se faz sentir. A determinada altura faz-se o balanço da "época dos incêndios", recolhe-se o material e conta-se os hectares de terra queimada. Geralmente, o Governo apresenta sempre um saldo muito positivo do combate a este flagelo e não se fala mais nisso. Eu optei hoje por falar do calor que nos massacra nos últimos dias. Eu que moro no litoral e vejo muitas pessoas a lamentar-se à minha volta, imagino o que seria viver por estes dias numa vila alentejana do interior profundo?- Como por exemplo em Barrancos. Um lugar que já não aparece nas noticias à algum tempo. Isto porque a dita comunicação social, como referi anteriormente, além dos incêndios , costumava salientar sempre aquela largada de touros nesta vila com a tradicional (mais uma?) morte do animal no final das lides. Aparecia sempre em peso, os repórteres com os directos para os canais do costume , com perguntas parvas acerca dos que defendiam os direitos dos animais e os da terra que defendiam a tradição. Na praça principal de Barrancos ainda hoje se fala , à porta da sociedade recreativa que em tempos, no final do século passado, marcharam setecentos em direcção ás escadarias da Assembleia da Republica e fizeram-se ouvir no dia da discussão do projecto lei sobre os touros de morte. Os barranquenhos, não sei se vingaram com as suas reivindicações mas sentem-se no presente"abandonados" por os senhores dos telejornais, que deixaram de fazer a sua maior publicidade. Os filhos da terra continuam a sofrer com o afamado custo da interioridade, além deste calor horrível, mas ao menos durante uns dias tinham a vila apinhada de gente curiosa, agora nem por isso. A única tradição que agora importa é aquela que eles cumprem a seguir ao almoço, "La siesta". Dos cerca de 2 mil habitantes da vila cerca de setecentas pessoas dependem de um emprego da Câmara Municipal, depois à duas fábricas que produzem o famoso presunto de Pata Negra. De resto, por estas bandas, pouco mais há para fazer...Lembro que um dos "slogans" daquela manifestação em 1999, era sem pôr nem tirar "deixem Barrancos em paz", fizeram-lhes a vontade e por lá ficaram cada vez mais ligados a Espanha do que a Portugal. Ali, sim eles têm que se queixar deste calor e não só!

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