terça-feira, 30 de novembro de 2010
Lugar onde se vai para ver.
Existem lugares de culto na nossa capital , no que diz respeito ao teatro, que merecem uma visita frequente de todos nós. Lugares que pelo seu historial merecem o nosso respeito e vontade de os tornar eternos. O Teatro do Bairro Alto, mais conhecido por Teatro da Cornucópia preenche os requisitos que antes descrevi, principalmente por causa da perseverança de um dos seus mentores, Luis Miguel Cintra. Desde 1973 que abriu as suas portas ao público, com um outro nome grande da cultura portuguesa, Jorge Silva Melo. Até ao 25 de Abril apresentou essencialmente Moliére, devido à apertada vigilância da censura, mas daí para cá foi uma das salas mais ecléticas do País, nunca deixando de apresentar os melhores textos para teatro jamais escritos, por exemplo Gil Vicente, Shakespeare, Tchekov, Strindberg, Brecht, Fassbinder,etc...
Apesar das sucessivas crises sociais, do aparecimento de outras formas de divulgação cultural, da permanente ameaça do desaparecimento do público nas salas de teatro, aqui se mantêm este reduto de Luis Miguel Cintra, que lá vai sendo teimoso em não baixar o nível das suas peças, caindo na tentação do popularucho. Este encenador que nasceu em Madrid em 1949, filho de pais portugueses, que abraçou desde sempre a carreira de actor com uma dignidade difícil de encontrar.
Não posso esconder que a sua sobrevivência passa muito pelos subsídios do Estado e da Gulbenkyan, mas de certeza que não passa por omitir textos mais incómodos ao poder vigente, corta a direito como eu muito aprecio. Eu assisti a muitas peças da Cornucópia, na segunda metade dos anos 80, isto porque numa altura que ainda não tínhamos acesso com tanta facilidade à agenda cultural, após uma simples inscrição na primeira visita ao teatro, comecei a receber pelo correio informação de todas as iniciativas e de todas as estreias, uma medida que na altura foi inovadora e uma pequena atenção que comigo resultou. Sentia que tratavam o espectador de forma diferente, inclusive vivia-se ali um ambiente acolhedor, na própria convivência entre actores e o público.
Saúdo mais uma estreia da companhia, uma peça que fala do próprio teatro, de muitos dos autores que já referi neste texto, entre eles Beckett e García Lorca, com o título "Fim de Citação". Mais uma vez aconselho uma visita porque passados 37 anos continuam em forma!
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1 comentário:
Faz falta, faz falta quem ame assim tanto a cultura portuguesa, de forma autêntica, genuína e sem qualquer outro interesse senão esse... o gosto pela diferença... o gosto pela cultura. Parabéns. Abraço.
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