-Se existem episódios, com um final feliz na entrega do Nobel da Paz, este ano, teria que
realçar o prémio entregue a Malala. Esta menina, conseguiu a proeza de não ter
medo, num ambiente extremamente hostil e castrador de todos os seus direitos
mais básicos. Com a ajuda do seu pai, director da escola local, teve a coragem
de nunca desistir de uma convicção, o direito à educação, um bem essencial ao
desenvolvimento de qualquer ser humano. Na nossa realidade, este bem precioso,
é irrelevante, dado que o temos quase como garantido, ninguém o põe em causa.
Mas o Vale do Swat, fica lá longe, muito para lá da nossa imaginação. Fica num
lugar, aonde a dignidade humana passa por momentos inverossímeis, como por
exemplo, proibir as mulheres de terem acesso à escola! -Um regime que ousa, não
respeitar o seu próprio povo, mas que existe na realidade. Esta menina aprendeu
a não ter medo. E nós sabemos que “eles” têm medo de saber que existem pessoas
que podem aprender a não ter medo!
- Tudo começa, com um
blogue, escrito por Malala, aonde, através de um pseudónimo, Gel Makai, enviava
os seus testemunhos, regularmente para a BBC. Ela descrevia o seu calvário num
lugar hediondo. Daí, até ser reconhecida como um alvo a abater pelo regime, foi
um pequeno passo. Em 2012, é baleada na cabeça e durante semanas, a sua vida
esteve em perigo. Mas por ironia do destino, este disparo cobarde, acabou por
ser o rastilho, para uma solidariedade inequívoca, por parte de todo o
mundo…racional.
- O resto da história,
já toda a gente sabe. Os prémios que possa ganhar, ao longo da sua vida, nunca
serão nada, comparando com a visibilidade que deu a um problema que sempre
existiu, mas que muitas vezes, fingimos que não existe. É mais confortável. -Termino, com parte de um discurso seu, na Assembleia Geral das Nações Unidas:
“Quando estava no Vale de Swat [onde Malala viveu no Paquistão], naquela época, havia mais de 400 escolas destruídas. E as mulheres eram agredidas, porque não estávamos autorizadas a ir para a escola. E, naquela altura, eu tinha realmente duas opções. Uma era de permanecer em silêncio e esperar para ser morta. E a segunda era falar e, em seguida, ser morta. Escolhi a segunda, porque não queria enfrentar o terrorismo para sempre. Queria sair daquela terrível situação. Queria ir para a escola. Foi o meu amor pela educação que me incentivou a continuar a campanha. Acho que, em tempos difíceis, precisamos levantar a nossa voz”.
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