terça-feira, 4 de maio de 2010

Mundo Português


Compreender melhor o nosso passado recente, deveria ser uma forma de enfrentar os problemas do presente e perspectivarmos melhor o futuro. No Festival de Cinema Independente, João Canijo apresentou o seu novo documentário "Fantasia Lusitana". Uma simples "colagem" de imagens, com a respectiva voz "off" que simplesmente descreve linearmente, aquilo que vamos vendo no écran. Sem qualquer presunção de comentar, João Canijo sem câmera, abstém-se de intervir. As fotos correspondem a 1940, altura em que a Europa estava em guerra. A Polónia tinha sido invadida no ano anterior, o nazismo espalhava-se em direcção à Noruega, Bélgica, Holanda, Dinamarca e França, estava em preparação o genocídio, que levou aos campos de concentração milhares de pessoas.Portugal neutro, recebia delegações da Inglaterra e da Alemanha que aqui tentavam esgrimir posições no terreno de batalha. Entretanto é organizada nesse ano a Exposição "Mundo Português", uma falsa ideia do nosso poderio económico, que não era bem visto fora de portas. O País assistia à guerra do lado de fora e Salazar ascendia ao poder de mansinho. A Lisboa chegam milhares de refugiados, entre eles alguns bem famosos como Antoine Saint Exupery, Alfred Doblin, Erika Mann (filha de Thomas Mann). Quando na Inquisição, Portugal expulsou os judeus, estes foram refugiar-se na Europa Central e esses países na altura acolheram-nos e aproveitaram-se do seu saber para se desenvolver. Quando em 1940 é a nossa vez de os acolher e de nos tornarmos um porto de abrigo, demitimo-nos dessa função e acabámos por tratá-los como "farrapos", apenas fomos um local de passagem, ao ponto de alguns notáveis estrangeiros afirmarem que, e passo a citar, "Portugal não teve o dia D, mas teve o dia S de Salazar e Carmona". O ditador Salazar cobardemente, salvou Portugal da Guerra, mas quem é que poderia salvar Portugal de si próprio?- Este documentário apresenta esta sucessão de imagens deste nosso reduto, no ano em que mostrámos ao mundo, uma imagem fraudulenta da nossa realidade. A ver e rever.