quarta-feira, 1 de maio de 2013

Traz a máquina contigo!





Vamos dar uma volta por aí. Traz a máquina contigo. Não custa  nada e tu até tens jeito, vá lá...
Sabes, tenho a sensação de que vai estar bom tempo. No outro dia, estava sóbrio, algo que acontece cada vez menos e ali para os lados do Cabo Espichel, assisti a um fim de tarde perfeito. De repente as lágrimas corriam-me pela face e dei por mim a querer eternizar aquele momento. Perguntava-me, como é que vou conseguir partilhar esta imagem.
Uma sensação infinita de impotência, traduzir em palavras o perfeito.
-Se ao menos tivesse aqui a minha máquina...
Consegues-me entender?




- Lembras-te daquelas ruas estreitas que iam dar a sítio nenhum?
Eu, a princípio ainda estava renitente em subir, ladeira acima para ver as vistas, talvez por causa desta minha fobia a alturas.

Depois, para ganhar coragem... ainda... estás-me a ouvir? Repara, só bebi aqueles copos porque tinha a sensação de que a paisagem me ia esmagar. Sabes, desejava desfrutar a aldeia mais portuguesa de Portugal na plenitude. Sabes, quando começam a colocar etiquetas, fico fulo. A mais isto, a mais aquilo. Tretas atrás de tretas!!!

A luz é tão importante, não achas?
A forma como pegas na máquina e essencialmente  a escolha dos enquadramentos, fez-me sentir na hora, que escolhi a pessoa certa para registar aquele momento especial.
Não importa o que dizem os livros, não importa a máquina. O que realmente importa, é quem prime o botão, quem escolhe o momento.

Lembras-te daquela tarde na Nazaré?


-Vê lá se me compreendes. Talvez eu tenha necessidade de preservar aquilo que presencio de alguma forma. Será uma insegurança inconfessada ou simples desejo de partilha?
-Não respondas já. Pensa antes nas imensas probabilidades de que estes momentos tão efémeros, são resultado de um conjunto enorme de factores, que só conciliados produzem aquela imagem. Não serão eles, dignos de registo?
    -Por amor de Deus, não me venhas com essa conversa de escolhas erradas! - Não podemos todos ter esse teu espírito crítico e distante. Em Alcobaça, tudo não passou de uma falsa modéstia da minha parte. Ali, tudo era grandioso...





Quando tracei no mapa, aquela passagem por Porto Mós, estava longe de pensar nas consequências de uma visita tardia a um lugar aonde nos faziam pagar por tudo a que queríamos ver.

Ao subir a estrada em direcção ao castelo, lembro-me de ver aquela senhora de idade, fazer um gesto cheio de dignidade, colocando a tabuleta de encerrado, porque provavelmente, estaria já farta de tanto "menino" com câmara à tiracolo a pedir informações!!

     -Estás enganado!! Redondamente enganado!!! Nesse dia, comecei a beber aquelas ginjas para tentar esquecer os pés molhados. Como chovia a cântaros, quando finalmente regressámos ao nosso abrigo.



 Não, de facto não me passava pela cabeça tentar travar conhecimento com o responsável pelo rebanho. Fostes sempre à minha frente, saíste resoluto do carro e até pensei que resolverias o assunto da melhor maneira. És sempre sensato e não previa aquele epílogo.

Numa estrada no meio de nenhures, era previsível encontrarmos animais imobilizados na via. Eu, especado à espera de um sinal divino para podermos seguir, e nada. Quando dei por mim, estavas a caminho de uma igreja ali perto, no alto de uma colina. Demorastes tanto, que resolvi seguir-te. Quando entrei naquele monumento, estavas simplesmente sentado frente ao altar. Saquei da minha máquina e tentei colocar numa imagem, a paz, o silêncio, a luz, o cheiro do incenso...enfim o divino. Coube tudo aqui...

Por isso, eu peço-te sempre. Traz a máquina contigo!