quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um talhão de esperança.


Os mais antigos costumavam comentar comigo que os pequenos quintais por trás dos prédios em plena capital, representavam aquele hábito de muita gente que migrou de zonas rurais e trouxeram a sua intrínseca ligação à terra. Claro que num período de crescimento aparente do País nos anos 80 e 90, essa prática foi deixando de fazer sentido, os mais novos não se interessavam e os mais velhos iam abandonando essa prática, porque as grandes superfícies proliferavam e os produtos cada vez mais acessíveis à sua bolsa, não incentivavam o cultivo. Se falarmos em termos de abandono, relembro as políticas desastrosas do Sr Silva nesta área. Os subsídios comunitários choviam e foi incentivado o virar as costas aos campos. Virar as costas às pescas, etc...Por isso acho engraçado quando vejo o mesmo Sr.Silva passados uns anos vir incentivar os jovens a voltarem à agricultura!! -Eu acho que se deveria exigir um mínimo de decência a estes políticos que acham ter o poder de fazer esquecer todas as estrumeiras que praticaram no passado (ainda por cima recente!), porque depois destas afirmações até as vacas açorianas se riem!!!

-Chegados a este momento da nossa longa história, seria desnecessário explicar o porquê de ressurgir este interesse pela terra. Não me abstenho de pensar que numa primeira fase à uns anos atrás, estávamos muito numa onda de Al Gore, o verde predominava, sentíamos necessidade de preservar, as campanhas de sensibilização não cessavam e o planeta como um todo era preocupação evidente. Mas agora não, penso que é um outro instinto que nos guia, somos levados a pensar que falhando tudo à nossa volta, inclinamo-nos para a pura sobrevivência que nos leva outra vez à terra. Tenho acompanhado as iniciativas que têm surgido, a maior parte das vezes de índole municipal, mas não só como o exemplo que ainda a semana passada li no jornal "Expresso". Em Montemor-o-Novo conjugaram-se dois interesses numa "simbiose" que eu achei curiosa, por um lado os proprietários de muitos hectares abandonados e por outro, pessoas interessadas em trabalhar essas terras, mas que não tinham terrenos para o fazer. Criou-se uma base de dados e as pessoas interessadas vão-se organizando, vão-se comunicando, respeitando é claro, regras bem definidas para ambos. Na zona de Lisboa e arredores cada vez que aparece uns talhões disponíveis, aparece logo muitas candidaturas e a verdadeira crise ainda nem se começou a sentir, segundo o que dizem os entendidos. Penso que na zona do Parque Botânico de Monteiro Mor, junto ao Museu Nacional do Traje estão disponíveis cerca de 2500 m2, uma zona que era tratada pelos próprios funcionários do Museu por pura carolice, mas que por diversas razões foi sendo abandonada, pelo que sei já existem candidatos suficientes para criar ali mais uma horta comunitária super lotada.


Este fenómeno tende a espalhar-se e seria interessante saber até que ponto não precisemos todos de começar a pensar em soluções que não passem necessariamente por um modo de vida que se encontra prestes a esgotar os seus recursos e que nas ultimas décadas definha-se a olhos vistos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

ACORDEM!!!! ....Porra!


"O que realmente levanta uma indignação contra o sofrimento não é sofrimento intrinsecamente, mas a falta de sentido do sofrimento."

Frederich Nietzsche

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

Che Guevara

O sonho é legítimo... Mas o sono pesado de nossa indignação atrai o caos. Precisamos acordar para o fato de que as mudanças sociais começam dentro de nós.

Demétrio Sena

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Merotocracia



Uma das grandes questões que actualmente se colocam aos movimentos de indignados, é a capacidade destes grupos de dar respostas capazes aos problemas que levantam?
A Democracia têm tido as "costas largas", qualquer ditador disfarçado hoje em dia poderá assumir que no seu caso em particular este mesmo regime é respeitado integralmente e o povo de uma forma ou de outra teve oportunidade de eleger os seus representantes. Já de certeza ouviram falar, José Eduardo dos Santos, Hugo Chávez ou mesmo Hu Jintão e parece-me incrível como estes senhores conseguem conjugar a palavra demo+kratos com a realidade dos seus países. Mas estes são exemplos maiores da hipocrisia política do século XXI, no entanto se depois tivermos com um pouco de atenção, vamos encontrando outros atropelos menos consistentes mas relevantes na nossa própria comunidade europeia. Todos os dias, basta abrirmos os olhos e estar atentos a sinais muito preocupantes vindos daqueles que supostamente elegemos para serem nossos representantes e defenderem os nossos interesses comuns.

Seria previsível que sendo políticos, não teriam a mesma fama se fossem cumprir tudo aquilo que prometeram nos seus programas eleitorais, a sua classe vive momentos bem conturbados de credibilização perante os eleitores, mas a crise está aí e precisamos urgentemente de soluções mais convincentes. Aonde vamos encontrá-las?

Fora dos partidos políticos seria talvez uma ideia muito perigosa, dizem alguns, porque poderíamos estar aqui a presenciar a um déjà vu da situação caótica que a Europa viveu antes da Segunda Grande Guerra com o aparecimento de grupos totalmente inovadores e depois deu naquilo que deu, portanto estamos aprisionados a um sistema que não se renova mas vai-se perpetuando até um dia...

Portanto, voltando à questão do princípio, eu admito que a realidade é propiciadora de alguns movimentos mais radicais com algumas ideias inócuas e limitadas por alguma utopia na sua realização, mas quando se diz que não existem respostas, às perguntas levantadas é totalmente falso. Os manifestos estão expostos para quem queira dar-se ao trabalho de ir consultá-los, mas acredito que a muitos portuguesinhos lhes seja mais fácil de afirmar que estes movimentos são vazios de conteúdo e apenas pretendem desestabilizar!!!
Muitas das ideias apresentadas fazem todo o sentido para quem como eu não obtenho qualquer vantagem na forma como somos governados, agora acredito que para certas pessoas seja impensável estar a perder tempo com este tipo de reivindicações.

A 12 de Março referi aqui neste blog que aconteceu algo de muito diferente neste País, espero que este movimento tenha aqui uma oportunidade de provar que nada daquilo foi efémero e que os "velhos do Restelo" são difíceis de mudar de opinião mas um dia terão que assumir que este inicio de século merece uma Merotocracia em vez da velhinha Democracia.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Terceira Visão.


Dalai Lama decidiu que irá reencarnar naquilo que lhe vier à tola e eu pergunto já que é assim, quem irá decidir o destino a dar na reencarnação da nossa economia quando chegarmos à bancarrota?

Sou um fervoroso seguidor das ideias deste grande guia espiritual e só tenho pena que os nossos sucessivos governos não o tenham recebido condignamente, aquando das suas curtas e esporádicas visitas a Portugal (isto porque estamos sempre a prestar contas àquele grande mercado emergente do Oriente, enfim chinezices!), mas agora seria interessante ele apreciar que não foram infrutíferas as suas viagens. Apreendemos depressa alguma da filosofia zen que ele difunde por esse mundo fora, se nunca se aperceberam deste facto, basta relembrar uma série de medidas governamentais que foram tomadas nestes ultimos 100 dias, sem qualquer reacção da nossa parte. Passo a enunciá-las:

* Aumentaram os transportes de uma forma brutal e nós o que fizemos. Serenamente NADA!
*Anunciaram cortes na saúde, resolução de diminuir os transplantes realizados, ainda estenderam as taxas moderadoras a grupos da população que usualmente tinham a sua isenção por razões diversas e continuam a fechar centros de saúde sem nenhum critério racional. O povo saiu à rua?- Não senhor, preferiram sentar-se na posição de lótus e esperar por dias melhores.
*Mexeram nas leis laborais de forma a que o patronato pagasse menos nas situações de despedimento sem justa causa, pretendem retirar privilégios a todas as pessoas que trabalham feriados e folgas. Ausência de qualquer medida para proteger os trabalhadores a recibo verde. E apesar de tudo isto, os portuguesinhos entenderam mais uma vez fechar os olhos e deram as suas mãos para....uma conjugação de energias.
* Vão-nos retirar 50% do subsídio de Natal, mas talvez por causa dessa época festiva, decidimos enaltecer o nosso sentido de solidariedade e compreendemos.
*Quando alguém deu a ideia de taxarmos os mais ricos, este Governo ainda sorriu de soslaio e afirmou, ..."nem pensar nisso e depois as fortunas fogem todas para o outro lado do Atlântico???". De devaneio em devaneio fomos sempre cultivando esta nossa veia budista e mantivemo-nos em concentração total.
* Aumento do IVA de 6 para 23% na electricidade e no gás natural. Continuamos mesmo assim a pensar que numa próxima reencarnação teremos poucas probabilidades de voltar a este lugar e sermos governados por estes pseudo políticos.

Respiramos profundamente, libertamos estas energias negativas. Estamos agora calmos. Relaxados e felizes!

Poderia enunciar mais medidas, mas em cem dias já podemos afirmar que lá longe no Tibete o Grande Dalai Lama irá ter orgulho neste povo que ele um dia visitou, escondido, pela porta de trás, mas que deixou um rastro de felicidade e amor puro!