quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Não vale a pena!

Quando o 25 de Abril chegou, eu ainda era uma criança. Eu não tinha noção de estar a viver um dia histórico, que iria mudar a minha vida para sempre. Depois, aos poucos,  fui-me apercebendo, do que seria viver neste País, durante a  ditadura?? -Teria eu capacidade e discernimento para acordar todas as manhãs e clandestinamente lutar por um amanhã, sem censuras, sem grilhetas, sem medo de dizer aquilo que me ia na alma, por um país aonde não fosse necessário...esconder-me?

-Depois desta introdução e chegados a este "doloroso" momento, começo a ter tendências para algumas comparações,  um pouco difíceis de classificar. O que será pior para Portugal, uma ditadura declarada ou uma democracia "disfarçada"?- Sim, porque contra uma ditadura, é "legitimo" que se lute por uma democracia, com os seus alicerces basilares, bem assentes na terra, como por exemplo o cumprimento escrupuloso de uma Constituição escolhida e aprovada por unanimidade! -E contra uma democracia "disfarçada", o que fazer?

Respondendo a esta questão, poderíamos por exemplo, recorrer ás inúmeras ferramentas de comunicação, que temos à mão e passar a palavra, incentivando as pessoas a virem para a rua, lutarem pelos seus direitos básicos, lutarem pela sua própria dignidade, constituírem movimentos cívicos que nos protegessem da voracidade destas novas leis...Ah!!! Desculpem, nós já fizemos isso no passado recente. Não resultou e ainda por cima apelidaram-nos de minorias. "Eles", no entanto, seguiram em frente com esta democracia do "faz de conta". Os muitos que já fizeram ouvir as suas vozes, estão agora cansados e desanimados, porque cada vez são menos. Dizem agora, alarvemente, NÃO VALE A PENA!!!

NÃO VALE A PENA, é das expressões que tenho escutado, a que mais interessa, aos senhores que todos os dias nos tiram um pouco mais da nossa dignidade. Termino, recordando aquilo que ainda hoje ouvi da boca de um músico grego, perante o assalto da polícia às instalações da televisão estatal grega, de forma a desocupar os estúdios, dos muitos trabalhadores resistentes, que ainda ali permaneciam:

..."Um famoso cantor grego, Vasilis Papakonstantinou, um dos primeiros a chegar esta manhã em solidariedade, declarava: 
"Estou tão feliz! É uma manhã maravilhosa! Finalmente posso experimentar uma nova ditadura. Durante a junta de Metaxas não era ainda nascido, durante a junta de Papadopoulos era apenas uma criança. Finalmente posso experimentar uma junta!...”