quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A metamorfose de Narciso

Aos poucos fui descobrindo que o espelho reflectia algo diferente da imagem que imaginava de mim próprio. Eu não poderia ser aquilo, ou pelo menos só aquilo. Faltava algo ali, eu possuía traços que se foram aperfeiçoando e não reconheci essa evolução naquela visão distorcida. Estava fadado para grandes cometimentos, reconhecerem a minha singularidade, seria um acto de mera constatação, por todos os que me rodeavam. Ter consciência desta beleza intrínseca e avassaladora não poderia ser desmistificada por uma mera ilusão de óptica. Por alguma razão, os Outros, tornavam mais real esta minha certeza, porque passavam ao largo, sem terem a coragem de se aproximar. Caso contrário,  seria um vexame desmesurado a sua incapacidade de traduzirem a minha imagem em palavras. Não se acercando desta minha aura, seria uma forma de se conformarem com a sua nítida debilidade.

Os espelhos, portanto passaram a ser um inimigo que importava declarar guerra. Talvez aproximando-me de um lago de águas cristalinas e isentas de qualquer movimento, fosse a tradução perfeita da minha certeza. De joelhos, inclinei esta obra de Deuses, situada acima dos ombros e deparei-me com algo perturbador. Uma pequena Libélula pousou por instantes nas águas e depositou alguns ovos. Distraído, fiquei assistindo ao desenrolar daquela acção. O tempo foi passando e aqueles ovos deram origem a uma ninfa, um insecto parecido com uma criatura alienígena. Ao descobrir uma planta perto do lago, esta subiu e deu-se uma metamorfose inesperada, transformou-se em algo de muito gracioso. Despiu as vestes repelentes e ao abrir as asas, foi ao encontro de um companheiro. O ciclo de vida prosseguia e eu assistia estupefacto. Interroguei-me perante tal milagre. Se aquela transformação, não seria também exemplo de um pedaço do desenrolar da minha existência?

Narciso, era filho do Deus-rio Cephisus e da ninfa  Liriope, um jovem de extrema beleza que se tornou escravo da sua imagem. Estaria eu, errado nas minhas convicções?- Afinal o que pôde assistir naquela imagem reflectida, não foi mais do que um ser distorcido pelas pequenas vibrações, que uma libélula provocou, ao depositar os seus descendentes na superfície do lago. Há quanto tempo, estaria eu, longe da realidade?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um silêncio ensurdecedor

Expandir Anos
Dívida das AP em % PIB
Mais 199155,6
200048,5
200150,9
200253,5
200354,9
200456,3
200561,4
200662,5
200768,3
200871,7
200983,2
2010Pro93,5
2011Pro108,0
Fontes/Entidades: DGO/MFAP–BP–INE, INE–BP, PORDATA
Última actualização: 2012-09-28
Em Junho deste ano já ultrapassámos os 117,8%!!!!
 Estes dados poderiam alarmar qualquer cidadão português, por muito leigo que fosse nestas matérias, mas pelos vistos, nós continuamos a fazer como a avestruz e não tiramos a cabeça da areia enquanto, não chegarem boas notícias. Os poucos que continuam por aí a lançar alertas aos quatro ventos, são apelidados de demagogos, de velhos do Restelo, de alarmistas, de não sermos solidários com o esforço comum, de pouco patrióticos, etc.. Anda por aí, muita gente desesperada com a situação dificil em que se encontra, mas estão formatados para não destoar da letargia generalizada, e embarcam nessa toada, mesmo que com a corda no pescoço. Se alguém ultrapassa esta barreira e protesta  ou seja dá voz à sua indignação, logo vêm aqueles olhares dos demais, reprovando a falta de recatez e bom senso. Afinal de contas, já nada é escondido, cada vez mais existe provas das derrapagens sucessivas, nas metas traçadas por este Governo, mesmo assim o povo quando reage, é muito na base do protesto sectorial. Hoje são os estivadores, amanhâ os jornalistas, depois o pessoal dos transportes, depois os outros e mais os outros... Unidade, acontece de longe a longe  e os governantes até ficam abismados com esses aglomerados na rua, não fossemos nós  o melhor povo do Mundo!!!! 
Enquanto o senhor Gaspar ameaça mudar o seu tom de voz, nós continuamos a protestar, mas baixinho.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Grão a Grão...

                                    2004...Manifestação contra a arrogância do  senhor Burroso.


          2010...Manifestação da CGTP na Avenida da Liberdade

 2010...Flashmob junto da Estação do Rossio, contra a Presença dos senhores da NATO em Lisboa
 2011...O dia em que Sócrates acordou para a realidade. O famoso 12 de Março

 2011... 15 de Outubro, o dia em que as escadas da Assembleia da República foram ocupadas pelo povo.
 2011...Acampada dos indignados no Rossio, durante mais uma assembleia.

 2012...Terreiro do Povo, durante uma manifestação da CGTP
 2012...O pessoal da cultura decidiu afirmar também "QUE SE LIXE A TROIKA"
 2012...Um 5 de Outubro privado, que correu muito mal!!!!
2012... 15 de Setembro. Um dia de grande mobilização e o inicio da mais que anunciada queda de um Governo desgovernado.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um fim de semana diferente

 Enquanto na capital, comemoravam pela ultima vez a Republica, eu rumei a norte.Exactamente à região de Aveiro.
                                                Um belo passeio de moliceiro na ria de Aveiro

                                       ..."  Vão no longe moliceiros
                                                De asas brancas, a voar,
                                                    Ao vento, leves, ligeiros,
                                                          Por sobre a ria a singrar.
                                                                 Vão no longe moliceiros
                                                                         De grandes velas a arfar..."

                                             Poema: Amadeu de Sousa (in Colectânea Poética)
                     

 
As imagens não fazem justiça à beleza deste local. O Buçaco era daqueles lugares que nunca fomos, mas que toda a gente diz maravilhas, portanto a minha expectativa era enorme. Superou tudo o que eu esperava!
Sem dúvida que o local foi talhado por transformações ao longo dos séculos, mas o virtuosismo de um lugar muito especial, nunca foi beliscado. Que bela manhã, meus amigos.
Cedros, ciprestes, abetos, sequóias, tílias, ulmeiros, loureiros, faias, fetos gigantes, acácias e freixos, provenientes da América, da Austrália, dos Himalaias ou de tantos outros locais do Mundo, foram plantados e cuidados por gerações de monges Carmelitas Descalços que viveram em clausura e contemplação por mais de 200 anos, entre 1630 e 1834, neste magnífico altar da Natureza, sagrado e protegido por bula do Papa Urbano VIII de 1634.
Com a descoberta de todos estes recantos, vamos cada vez mais tendo a certeza de que vale a pena lutar por dias melhores, afinal de contas, deixaram-nos este legado, que não merece ter estes indecorosos timoneiros.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vergonhoso Pedro! Vergonhoso.

Vamos comemorar mais um feriado (este ano pela ultima vez) da implantação da República. Seria bom, lembrar os portuguesinhos, mais uma vez, do espírito que norteou os homens do 5 de Outubro.Manuel Arriaga e companhia deverão estar, neste momento, a dar voltas na campa, quando reparam nesta bandalheira colossal em que Portugal se tornou. Os ideais republicanos vão sendo espezinhados, sempre que estes badamecos vão conduzindo este País para uma dependência económica, que  irão arrastar todos os outros valores intrínsecos da nossa identidade como povo, para o lamaçal! 

Troikam-nos as voltas, ditando de fora, as  regras que nos irão afundar de forma irreversível. 

"Dedicação à causa pública, o progresso ao serviço dos cidadãos, a laicidade, o respeito pelas diferenças, a educação, a ciência, a cultura, o respeito pelos direitos dos trabalhadores e a modernidade". 

Quando lemos, algo sobre estes valores republicanos e logo a seguir deparamos com uma comunicação de Vitor Gaspar sobre o próximo orçamento, o que é que nos dá vontade de fazer? -Digam, não tenham medo!!!!
Gritar bem alto, que já chega!!! -Deixem de nos fazer de estúpidos, de mansos, deixem-se de vez de gozar com a nossa cara. 

O primeiro ministro prepara-se para se ausentar das comemorações deste dia. Acovarda-se e retira-se para o estrangeiro com desculpas sem nexo. Deixa cá os outros, para representá-lo e ouvir aquilo que ele não têm coragem de assumir. Vergonhoso, Pedro. Vergonhoso!