terça-feira, 31 de agosto de 2010

Grande Reportagem


Esta é uma homenagem que presto a um dos melhores projectos feitos na Comunicação Social portuguesa até esta data. Tudo começou em Dezembro de 89 e o seu proprietário eram as Publicações Dom Quixote, Lda, como seu primeiro director um grande jornalista, José Manuel Barata-Feyo. No inicio era trimestral, mas dada a sua qualidade, depressa passou a mensal e já na sua fase mais terminal tornou-se semanal. O primeiro número que saiu para as bancas, teve três edições, a capa que aqui apresento é da 2ª edição e custou-me a módica quantia de 500 escudos! - Guardo religiosamente os duzentos e tal números da coleção inteira e de vez em quando, lá vou eu remexer nalguns artigos mais antigos, uns fazem sentido outros nem tanto... Numa segunda fase o director passou a ser Miguel Sousa Tavares e o ultimo foi Francisco José Viegas. Durante esses, quase 15 anos nunca deixei de procurar a "Grande Reportagem" e porquê?- Constituíam um "oásis" no quase deserto panorama da comunicação social no que se refere à coragem de apontarem verdades e revelar segredos comodamente camuflados. Lembro-me de estar ausente durante uns anos em Boston e mesmo aí,(com muita dificuldade porque o que lá chegava era o jornal "A Bola" e pouco mais) nunca deixei de ir buscar a minha revista a uma pequena livraria da comunidade portuguesa que se situava perto da Universidade de Harvard em Cambridge. Mas seria interessante eu aqui comentar alguns desses artigos que apareciam nesta primeira publicação, já lá vão 21 anos!
O então presidente da Republica Dr. Mário Soares dizia em entrevista de fundo ao director da revista, que não ocuparia mais outro cargo político após este seu mandato. Bom, nos dias que correm poderíamos comentar que ele bem tentou, mas não conseguiu.Traçava-se também o percurso de dez anos de autonomia do Governo regional da Madeira com o título "Uma laranja amarga e doce". Neste aspecto nada mudou, a laranja continua no poder mas verdade seja dita, desde esses tempos houve muitos progressos na qualidade de vida destes ilhéus. Do Afeganistão falava-se de uma guerra da indiferença, o mundo passava ao lado da tentativa de a Rússia ocupar este território. Não o conseguiu, perdeu a guerra frente aos talibans, tal como agora acontece perante as forças da Nato. Noutro artigo, falava-se na SIDA como sendo a doença dos anos 80, algo que veio transformar alguns hábitos, costumes e princípios no quotidiano de todo o planeta. Infelizmente, ainda hoje a ciência não conseguiu irradicar este mal, que agora chegou em força ao leste europeu. Outra grande entrevista, com um dos nossos maiores filósofos e pensadores portugueses e que eu sempre admirei. Agostinho da Silva dizia, que a década de 80 foi tudo a correr pelo futuro. Muita parra, pouca uva diria eu, prometeu-se muito nesta década, mas depois..."Estamos na véspera de uma revolução francesa em todo o Mundo! Só que o terceiro estado hoje,chama-se Terceiro Mundo"- Bom, ainda não chegámos lá, mas ele tinha uma visão mais que correcta e ainda e cada vez mais premente, um dia essa revolução acontece.. Dei algum destaque das cerca de 224 páginas de puro jornalismo independente, que nos dias que correm temos muito poucos exemplos.Apetece dizer que saudades da GR!