segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Liga dos Fiscais Anónimos.

     
                          -O gesto deste arquitecto de 85 anos num colóquio, respondendo a uma pergunta de um jornalista, mais ousado, é o mesmo que muitos portuguesinhos gostariam de mostrar ao nosso primeiro-ministro, depois daquela promessa de reembolso do IRS!
               -No entanto, eu penso que esta estratégia do Governo, de subir a receita fiscal, através de mais incentivos, nas despesas de alimentação, educação, vestuário, etc., vai resultar em cheio. Os portuguesinhos têm esta característica , de não se importarem de “lixar” o parceiro, ao pedir factura, desde que isso represente mais alguns cêntimos, para o seu bolso. O governo, claro está, dará um chouriço, a quem lhe oferecer um porco, mas o povo de certeza, irá colaborar de forma massiva. Passos Coelho em vez de reforçar a fiscalização à fraude fiscal, irá ter, em cada um de nós, o agente de serviço que tanto precisava.

          - A reforma da máquina fiscal continua a ficar na gaveta, a reorganização da administração pública continua um imbróglio, difícil de entender, a mão pesada da Justiça fiscal, continua a incidir sobre os mesmos de sempre, enquanto assistimos impávidos e serenos ao desenrolar dos tristes episódios do Banco Mau versus Banco Bom.
          - Neste vergonhoso Orçamento do Estado, vamos encontrar medidas aberrantes e insultuosas à inteligência comum, como por exemplo, aumentar dois euros (!!!) as pensões mínimas.
              - Eu sei que toda a verdadeira esquerda (como é natural, não incluo aqui o PS, por razões óbvias, mesmo com a nova liderança) viria a terreno acusar o Governo de medida eleitoralista, caso estes fossem baixar o IRS, para o ano. Assim sendo, Paulo Portas continua a fazer as suas “birras”, mas não vai levar água ao seu moinho e Passos pondera já organizar a melhor forma de ficar na liderança do seu partido, após o desastre previsto nas próximas legislativas. Afastar-se, está fora de hipótese e conhecendo esta personagem, como conhecemos, de certeza que férias sabáticas, estilo Sócrates, não irá acontecer. Ele vai andar por aí…

sábado, 11 de outubro de 2014

I am Malala

       


            -Se existem episódios, com um final feliz na entrega do Nobel da Paz, este ano, teria que realçar o prémio entregue a Malala. Esta menina, conseguiu a proeza de não ter medo, num ambiente extremamente hostil e castrador de todos os seus direitos mais básicos. Com a ajuda do seu pai, director da escola local, teve a coragem de nunca desistir de uma convicção, o direito à educação, um bem essencial ao desenvolvimento de qualquer ser humano. Na nossa realidade, este bem precioso, é irrelevante, dado que o temos quase como garantido, ninguém o põe em causa. Mas o Vale do Swat, fica lá longe, muito para lá da nossa imaginação. Fica num lugar, aonde a dignidade humana passa por momentos inverossímeis, como por exemplo, proibir as mulheres de terem acesso à escola! -Um regime que ousa, não respeitar o seu próprio povo, mas que existe na realidade. Esta menina aprendeu a não ter medo. E nós sabemos que “eles” têm medo de saber que existem pessoas que podem aprender a não ter medo!
      - Tudo começa, com um blogue, escrito por Malala, aonde, através de um pseudónimo, Gel Makai, enviava os seus testemunhos, regularmente para a BBC. Ela descrevia o seu calvário num lugar hediondo. Daí, até ser reconhecida como um alvo a abater pelo regime, foi um pequeno passo. Em 2012, é baleada na cabeça e durante semanas, a sua vida esteve em perigo. Mas por ironia do destino, este disparo cobarde, acabou por ser o rastilho, para uma solidariedade inequívoca, por parte de todo o mundo…racional.

       - O resto da história, já toda a gente sabe. Os prémios que possa ganhar, ao longo da sua vida, nunca serão nada, comparando com a visibilidade que deu a um problema que sempre existiu, mas que muitas vezes, fingimos que não existe. É mais confortável.         -Termino, com parte de um discurso seu, na Assembleia Geral das Nações Unidas:

“Quando estava no Vale de Swat [onde Malala viveu no Paquistão], naquela época, havia mais de 400 escolas destruídas. E as mulheres eram agredidas, porque não estávamos autorizadas a ir para a escola. E, naquela altura, eu tinha realmente duas opções. Uma era de permanecer em silêncio e esperar para ser morta. E a segunda era falar e, em seguida, ser morta. Escolhi a segunda, porque não queria enfrentar o terrorismo para sempre. Queria sair daquela terrível situação. Queria ir para a escola. Foi o meu amor pela educação que me incentivou a continuar a campanha. Acho que, em tempos difíceis, precisamos levantar a nossa voz”.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Aquilo que eu não fiz.

              As almas poderão andar, mais calmas, mais resignadas, mais alienadas, mas os motivos, pelos quais já saímos à rua, aonde gritámos por mudança, esses continuam no nosso presente. Esses motivos, teimam, em tornar-se definitivos.
             As canções de "protesto", servem, na maioria das vezes, como alarme para agitar a nossa letargia tradicional. Seria justo, lembrar, algumas delas e reflectirmos sobre o papel que desempenharam, num determinado contexto.
             De certeza que se lembram do expoente máximo deste género de música. Primeiro recorrendo a metáforas e outras figuras de estilo para passar a mensagem, antes da Revolução de Abril e depois escrevendo claro e conciso, com músicas como, "O que faz falta", "Venham mais cinco", "Canção de Embalar", "Vejam bem" e muitas outras, do grande mestre Zeca Afonso. Mas, também me lembro do Zé Mário Branco com o mítico "FMI" ou o "Alerta". O grande Sérgio Godinho com a "Liberdade", com a ..." paz, o pão, habitação, saúde e educação...". Falando na velha guarda, recordo também, "Se tu fores ver o Mar" do Fausto, a "Pedra Filosofal" do Manuel Freire, a "maldade" que o Ary dos Santos fez aos poderes instituídos, quando escreveu para o Fernando Tordo cantar, num mítico Festival da Canção de 75, a "Tourada". Mais recentemente, poderíamos falar dos Deolinda com o seu "Parva que eu sou", dos Peste & Sida, o expoente máximo do punk nacional, nos anos 90, quando nas manifestações estudantis contra a famosa PGA ou a introdução de propinas, a "Repressão Policial" era uma melodia muito entoada, por razões óbvias."Sem eira Nem Beira" dos Xutos e Pontapés, passavam uma mensagem aonde, quereriam  acreditar que esta merda iria mudar...mas não mudou e cá continuamos. Na sequência de todas estas palavras de luta, denuncia e  apelos a não desistirmos, de ACREDITARMOS, ouvi recentemente Tiago Bettencourt. Nesta grande galeria, que aqui apresentei, este nome também irá marcar a nossa realidade, com uma série de questões:
             -Não fui eu que errei, então porquê que tenho de pagar????