domingo, 18 de março de 2012

Pedrada no charco!

"Sangue do meu Sangue" é uma pedrada no charco e para este secretário do Estado da Cultura é inconveniente. Agora percebo um pouco melhor a irritação de Rita Blanco num telejornal, à pouco tempo. Ela que foi uma das interpretes deste filme de João Canijo e apercebendo-se desta opção redutora de um Governo que despreza o cinema português e a cultura em geral, naturalmente que se sente revoltada. Depois dos Prémios que recebeu no Festival de San Sebastian, agora acaba de vencer o Grande Prémio de Júri de Miami, além de menções honrosas em Toronto, Rio Janeiro, etc...Isto acontece num ano aonde a produção nacional está reduzida a pequenos esboços que tendem a não sair de projectos.

"Sangue do meu Sangue" é um filme que nos fala do amor incondicional, daquele amor que só as mães sabem dedicar às suas crianças.Em sintonia com esses afectos existe drama e a descrição de algo muito real, as relações que se gerem num bairro com muitas dificuldades. Rita Blanco talvez desempenhe neste filme o papel da sua vida, sem dúvida magistral, tal como Anabela Moreira (excelente surpresa) ou Cleia Almeida. Um filme essencialmente de mulheres.Canijo filma o Bairro Padre Cruz com uma lente muito "transparente". Revela a sua história, dando-nos pistas sobre um desenlace mais que evidente num local com estas características. Muitas vezes desejamos estar a assistir a uma ficção desproporcionada da realidade, mas infelizmente temos de sair da nossa zona de conforto e mergulhar bem fundo neste mundo.Às vezes, mesmo ali ao virar da esquina.

Neste filme, a banda sonora impressionou-me de uma forma estranha, porque o som advém das frágeis estruturas que representam as habitações e os sons provenientes desses espaços. As paredes vizinhas são meras folhas de papel aonde a privacidade se desvanece de uma forma colossal!- Tudo se ouve de um lado para o outro, os sons da televisão são disso prova sintomática. Este "voyeurismo" é no fundo peça fundamental à forma como decorre o próprio argumento.

Se continuarmos a "dormir", um dia destes não vamos poder congratular-nos, nem com estas pequenas "pérolas".