terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pare, Escute Olhe


O visionamento deste documentário que já estreou à cerca de 1 ano, levou-me a pensar que em Portugal a qualidade do serviço público prestado, depende de muitos factores, mas aquele que deveria ser sempre prioridade, fica infelizmente para último, o bem estar das populações.
Vou aqui deixar um exemplo, mas poderia falar, em termos de caminhos de ferro, no fecho de mais de 800 km nos últimos anos. A famosa Linha do Tua, fechada por decreto de resolução do Conselho de Ministros, desde finais de 1991, continua nos dias que correm a ser uma pedra no sapato de quase todos os principais políticos portugueses, isto porque as promessas foram muitas e obra nenhuma. Aqueles quilómetros de via férrea entre Mirandela e Macedo de Cavaleiros jazem talvez para sempre perante cenários que não custa a acreditar, dizem os entendidos, serem do melhor do mundo em termos de beleza.
Projectos, já foram apresentados, secundarizando até as pessoas que continuam a necessitar deste transporte como pão para a boca, mas relevando a sua importância no aspecto turístico. Poderiam dinamizar todo este interior cada vez mais abandonado, com o valor intrínseco do trajecto. Ainda à cerca de um mês o Presidente da Republica visitou algumas destas paragens e confrontado com a possibilidade de reabertura deste troço, respondeu simplesmente que já passou muitos bons momentos nestes locais e desviou-se mais uma vez da questão. Infelizmente a sua memória é cada vez mais curta e deveria lembrar-se que foi através de um Governo liderado por si que despoletou o encerramento da Linha. Hipocrisia, pura e dura!
Os transmontanos desejam cada vez mais que a linha de fronteira fosse um pouco mais a Sul, de maneira que não tivessem de se preocupar mais com a realização de manifestações, sinos a rebate ou choros de revolta perante a indiferença. O poder centralista de Lisboa têm cada vez mais, vistas curtas. Colocaram transportes alternativos ao comboio, mas as pessoas continuam a esperar horas para que se possam deslocar ao médico, à escola, para os cada vez menos empregos que existem. E Lisboa fica lá, longe... Muito longe e estes políticos demoram a prometer, porque já ouviram dizer que agora estamos mal. Da Europa já não vêm aqueles milhões que costumavam vir e agora até nos estão a apertar os calos!!!
Por incrível que pareça, os senhores do PSD no poder em meados de 90 diziam, na altura, que a consulta às autarquias introduzia demasiado populismo na decisão. Por isso fecharam a Linha sem perguntar nada. A democracia segundo eles, têm limites.
Ao percorrer aquelas imagens da autoria de Jorge Pelicano, interrogo-me senão deveria ser da responsabilidade do Engenheirinho, criar condições para promover a prazo, a fixação das populações nos quatro cantos do País?
O progresso da nossa Nação é isto mesmo, muitas concessões à Mota Engil para cruzar Portugal de lés a lés com IPs em sucessão aritmética, muito betão para encher os bolsos aos mesmos de sempre. De certeza a esta hora, o conselheiro Abílio Beça, um dos grandes dinamizadores e fundadores desta linha em 1903, que por ironia do destino acabou por morrer numa das estações, trucidado por uma locomotiva em 1910, estará a dar umas belas voltas na sua tumba.