terça-feira, 16 de novembro de 2010

Arquivo Íntimo.


Numa altura em que estamos perante uma crise de estadistas com um mínimo de qualidade, caso de Berlusconi, Sarkosi, David Cameron, Zapatero e o incrivel Engenheirinho, penso cada vez mais nas saudades que tenho de homens como Nelson Mandela, agora que foi lançada a sua autobiografia "Conversations with Myself".
Quando ainda era novo, reagia com violência, perante a brutalidade do regime apartheid, acerca disso no presente, apenas afirma, que os oprimidos têm sempre de adaptar as suas medidas em função da actuação dos opressores. Uma lição para aqueles que hoje em dia continuam a pensar, que vivermos em democracia e termos o direito de lutar pelos nossos direitos, faz com que fiquemos mergulhados numa letargia enervante.
Num continente aonde quase sempre imperou a corrupção, o abuso do poder e as sucessivas ditaduras militares, exemplos como a condução da África do Sul por este homem até 1998, foi um facto digno de toda a nossa admiração. A sua história de vida, que eu sempre idolatrei, convenceu-me que é sempre possível darmos a volta por cima, desde que tenhamos a lucidez e a sabedoria de encontrar um lado positivo em tudo aquilo que nos empurra para uma face mais escura da vida. Existem momentos da sua existência que eu nunca esquecerei, como a sua libertação e logo a seguir a sua ascenção até à Presidência, o Mundial de Rugby, que o seu País tão bem organizou e aonde a sua personalidade "inspirou" toda uma equipa à vitória final, motivando um povo que necessitava de um sinal para fortalecer a sua identidade perante o mundo.
- Diante da brutalidade de ter aguentado 37 anos atrás das grades e de ter sido sujeito a um racismo permanente e hediondo, conseguiu reconstruir uma nação baseada não no preconceito racial, mas numa sociedade tolerante aonde tornou realidade o sonho que muitos desejavam para todo um continente. Como seria Portugal com a visão de um homem com esta capacidade, seria pedir muito não é?
Este líder agora com 92 anos continua a ser uma fonte de humanismo aonde muitos gostariam de sentir o gosto e talvez com alguma humildade conseguissem seguir-lhe as pisadas, enfrentando todas as dificuldades que se aproximam com uma alma renovada e esperança que dias melhores poderão chegar no futuro. Termino com uma simples mas significativa passagem do seu livro:

"Devo ter ouvido mil e uma vezes que o que importa não é tanto o que acontece a uma pessoa, mas sobretudo a forma como essa pessoa aceita o que lhe acontece. [...] No entanto, sempre que é a minha vez de ser atingido por alguma infelicidade, são precisamente estas coisas simples que eu esqueço, e deixo assim que o caos se instale."