quinta-feira, 8 de março de 2012

A história repete-se?

Mais um daqueles iluminados que por cá aparecem de vez em quando, ainda por cima com o epíteto de Nobel da Economia, veio afirmar em conferência solene que os trabalhadores  têm de auferir cerca de 20 a 30% menos nos seus salários para nos tornarmos competitivos com o resto da Europa. Nem precisei de ouvir mais, calculei logo que este senhor Krugman é um perito encomendado por os senhores do costume. A par desta ideia brilhante, o nosso Governo, vai de propor uma série de soluções para baixar a taxa de desemprego no mais curto do espaço de tempo possível. Avançaram logo com gestores para os desempregados, uma ideia pomposa para iludir os portuguesinhos. Como se alguém acreditasse que vamos ter uma pessoa a tomar conta do nosso futuro e de agora em diante, temos de confiar nas suas sábias soluções. Basta esperar... Dar incentivos financeiros e fiscais às empresas que coloquem nos seus quadros, estagiários e jovens à procura do primeiro emprego. Outra boa medida, sem dúvida. Mas temo que precária e só para baixar momentaneamente a taxa, porque mal os incentivos esmoreçam, estes jovens têm o destino marcado. Não nos podemos esquecer que para novos contratos é muito mais fácil despedir. Mas o Governo prepara-se para mais um daqueles truques sujos para demonstrar que a taxa irá descer para meados de Maio, e como?- O emprego sazonal. Principalmente numa das maiores industrias que temos neste País. O Turismo, indústria essa que se aproveita do desespero das pessoas para lhes dar, por três a quatro meses, um cheirinho do que seria terem um emprego estável durante o ano inteiro. Uma ilusão a que todos estão sujeitos, mas que têm  todos os anos o mesmo epílogo!

                É verdade que este fenómeno não será exclusivo do nosso burgo, mas basta olharmos para a história, após a Revolução Industrial, para compreendermos um pouco daquilo que nos está a acontecer. Após essa fase, havia um excedente de procura e pouca oferta, muitos milhares rumaram ao Novo Mundo, um fluxo migratório muito consistente. Depois da Depressão do inicio do século passado, quando se conseguiu um equilíbrio entre os interesses dos trabalhadores, defendidos por sindicatos recentemente criados para esse fim, e a função principal dos empresários que será sempre tornar o trabalho mais produtivo e lucrativo, assistiu-se ao período mais estável e duradouro crescimento da história.Depois, veio aquele tempo em que se começaram a colocar na mão de uns tantos matemáticos e economistas, a forma de rentabilizar (ainda mais!) as suas empresas com os mesmos recursos. Começou-se a retirar poder negocial aos trabalhadores e os lucros em vez de serem investidos em mais unidades produtivas começaram a ser canalizados para actividades especulativas. A taxa de desemprego começava assim a sua ascensão. Entretanto as famílias endividaram-se, porque queriam manter os seus padrões de bem estar, previamente atingidos e recorriam à banca de uma forma irresponsável.Para fechar este quadro, nada melhor do que referirmos a confiança absoluta no poder incontrolado dos mercados por parte dos que detém o capital e seus gurus.

            Termino com a seguinte questão. Que função social útil desempenham hoje em dia os nossos empresários?