sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cinema Paradiso

           Foi inaugurado ontem, o cinema Ideal. Quando soube desta novidade, lembrei-me logo do "Cinema Paradiso" de Tornatore, porque seria?
          -Esta é uma boa notícia, num País, aonde a cultura é muito mal tratada. Esta é uma história de coragem, de um conjunto de pessoas que acredita no verdadeiro espírito, do cinema de bairro. Para as novas gerações, será muito difícil  compreender, o que será ir a um espaço ver cinema, que não seja num centro comercial e que não tenha mais dez salas ao lado, de preferência com um pacote de pipocas na mão. Mas para mim, esta reabertura, é uma lufada de ar fresco, dado que me recorda, os dias em que eu percorria Lisboa e era frequentador assíduo de muitas, deste género de salas. Umas das minhas primeiras idas ao cinema , foi ao cinema Avis, ali para os lados do Arco Cego, ver o Terence Hill e o Bud Spencer, no "Trinitá, Cowboy Insolente", nos idos, anos 70. Mas recordo também,  ver outras "cowboyadas" no cinema Royal, no bairro da Graça ou ao Martim Moniz, no saudoso Salão Lisboa, popularmente chamado, o "piolho". Comprávamos por dez tostões o ingresso e as sessões eram ininterruptas, como tínhamos de ficar na plateia, às vezes choviam coisas esquisitas, vindas do primeiro balcão. Mas fazia tudo parte do espírito intrínseco destas salas.

          Estamos numa altura crítica para as salas de cinema em Portugal (e não só), as receitas de bilheteira caem abruptamente e poucos resistem. O cinema Londres foi um dos que, infelizmente encerrou à pouco tempo, mas por outro lado, o Nimas, vai resistido heroicamente, com uma escolha muito criteriosa dos filmes a apresentar.
No verão, vão-se propagando os locais em Lisboa, aonde se pode assistir a filmes ao ar livre, esta é uma boa iniciativa, para demonstrar que existe público para sair de casa e ir ao cinema, basta que não coloquem os bilhetes a um preço proibitivo, tal como acontece nas salas da Lusomundo e outros grupos idênticos.

              Não tenho muita esperança, que outras salas em Lisboa possam seguir as pisadas do Ideal, mas torço para que este projecto tenha sucesso e seja um exemplo para contrariar a ideia, de que esta indústria está a morrer lentamente. Brindemos a este local único em Lisboa, com Foyer, Plateia e Balcão, brindemos também à casa da Imprensa, proprietária do edifício e que teve a coragem de embarcar nesta aventura e finalmente brindemos à Midas, que irá ser responsável pela programação. Uma das mais velhas salas de cinema de toda a Europa, com cerca de 110 anos de história, merece toda a nossa atenção. Para todos aqueles que gostam realmente de cinema, apelo a que façam muitas visitas a este local de culto.


domingo, 3 de agosto de 2014

O banqueiro anarquista.

Com esta história toda do Banco Espírito Santo, lembrei-me de um pouco de prosa do Fernando Pessoa. Seja porque motivo for, é sempre bom recordarmos Pessoa. Quase no fim da sua vida, ele escreveu este conto, que não passa de um simples diálogo, fantástico entre o narrador e o Banqueiro. O seu sentido arguto e alguma dose de humor sobre tudo o que o rodeava, está bem espelhado neste texto.

     Seria fastidioso estar aqui a explicar o que se passa no reino do Espírito Santo. Nem eu, nem aquelas almas, da Comunicação Social que nos bombardeiam com suposições, especulações e cenários hipotéticos, saberão exactamente o que se passa. Mas de repente, todo o mundo é especialista em alta finança e afirmam peremptoriamente, que sabem do que falam. Nós, os portuguesinhos, já estamos de férias e se esta época de incêndios até está fraquita, devido a um Verão muito envergonhado, não queremos saber de mais nada, viramos as costas a estes assuntos da família abençoada. Para figuras tristes, já basta a dos jornalistas,  que ficam horas à porta do senhor Ricardo Salgado, à espera, não sei bem de quê???

          O Banco de Portugal, regulador, por excelência da banca, veio, mais uma vez, a tempo de dizer que temos de, parcialmente, nacionalizar o Banco Abençoado. Uma espécie de BPN, mas desta vez, mais grave ainda. O prejuízo vai ser coberto por um fundo, (inventado à ultima hora, com uma designação diferente daquela que esteve na base da ajuda ao BPN, para não chocar muito, os portuguesinhos) que irá recapitalizar o banco. Àqueles que pensam, que estão a perceber, exactamente, o que está a acontecer, o Espírito Santo os Abençoe...

         Voltando ao inicio, penso que a solução está na ideia deste conto de Pessoa. Todos, termos a ambição e a força necessária, para nos tornarmos, individualmente, banqueiros anarquistas, de forma a subverter as regras deste jogo viciado. Vale a pena, ler ou ouvir esta obra, porque está mais actual do que nunca, vão ver que não perdem o vosso tempo. Uma boa sugestão para este verão transfigurado.