segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

desumanização, usem e abusem.


          -Não costumo divulgar aqui, as minhas leituras, mas vou abrir uma excepção, porque realmente vale a pena. "Desumanização" de valter hugo mãe é um lançamento recente e contêm todos os ingredientes para se tornar numa daquelas obras que nos marcam de uma forma muito especial. Existe ali, magia. Este senhor "brinca" com as palavras até à perfeição.

         -Este angolano, vencedor, entre outros galardões, do Prémio José Saramago em 2007, transporta-nos neste seu ultimo lançamento, para uma realidade muito distante. Uma história passada na enigmática Islândia. Com o suposto conhecimento de causa, envolve a nossa imaginação em paradoxos múltiplos. Se por um lado, temos a sensação desconfortável da descrição de emoções cruas e gélidas, por outro, descreve-nos  um jogo trepidante de palavras que nos aconchegam e faz-nos sentir o calor das emoções. Temos dificuldade, por vezes, de acompanhar uma narrativa enigmática, mas logo surge a simplicidade revelada  no final de cada ideia transmitida. A morte versus a vida desmaterializada de uma criança, que enfrenta o ódio da mãe e a compreensão frágil do pai "poeta".  

           -Eu, a caminho da Europa, vindo do outro lado do Atlântico, à uns anos atrás, fiz escala em Reykjavic. Verdade que não cheguei a sair do aeroporto, mas ao aterrar naquela ilha, perto do meio dia, estava escuro como breu e reparei numas pessoas que transportavam as malas na pista. Essa imagem até hoje, nunca me saiu da cabeça. Vestiam uns anorak´s enormes, que os cobriam da cabeça aos pés, com uns capuzes que não deixavam ver as faces. Na cabeça transportavam umas luzes que realçavam o trabalho rotineiro que efectuavam num ambiente muito hostil. Naquele final de Novembro, lembro-me que aqueles misteriosos seres, faziam-me lembrar uns figurantes de um concerto inolvidável, que assisti no cinema, nos idos anos 80, na saudosa sala do Campo Grande, Caleidoscópio. O filme chamava-se"Like a Hurricane" e não era mais do que um concerto de 78, de  Neil Young&Crazy Horse. A nossa imaginação, por vezes prega-nos estas partidas, vai buscar acontecimentos longínquos e traça linhas desconexas, que no entanto terão alguma razão de ser, algum sentido. Passados, todos estes anos, esta "desumanização", conseguiu interligar, estas minhas experiências.Curioso, porque através de valter hugo mãe, estas imagens voltaram a surgir. Só por isso, já foi muito bom.



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